terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Garota dos Pés de Vidro – Ali Shaw

Sinopse: Cenários cinematográficos, paisagens paradisíacas, pântanos congelados com animais transformados em vidro, florestas brancas, penhascos monocromáticos, um oceano de baleias, lendas e águas-vivas. Midas é um tímido fotógrafo ilhéu. Ida é uma jovem aventureira que vem ao arquipélago de Saint Hauda's Land buscar a cura para sua misteriosa doença: está se transformando em vidro. Juntos buscam uma solução. O que eles mais precisam é de tempo - e o tempo está passando rápido. Será que vão encontrar uma maneira de evitar a propagação do vidro?

Qualificação: Bom.

Resenha: Francamente desapontada, me sentindo um pouco enganada. Embora traga um rico desenvolvimento de seus personagens, toda mitologia é jogada quase que como composição artística ou efeito dramático. O livro nem mesmo precisava de elementos fantásticos para contar sua história de amor!!

Fiquei muito curiosa sobre a doença de Ida e foi essa vontade de descobrir todo universo surreal que envolvia tão incomum enfermidade que me motivou a ler esta obra. No entanto, não posso dizer que esta seja a tônica do livro. No fim, tive a sensação de que um câncer ou algo que o valha ofereceria os elementos necessários sem maiores prejuízos.

O autor concentra seus esforços muito mais na construção dos poucos personagens - excêntricos, e absurdamente introvertidos - e seus dramas pessoais (até um pouco redundantes), do que revelando sobre a diversidade mítica que introduz. O resultado é um drama tocante e singular que vai agradar a quem estiver aberto para essa proposta e surpreender quem esperava uma aventura fantástica (não necessariamente de forma positiva).

No campo das emoções o autor dá um show. Ele não trabalha com caricaturas ou pessoas do lugar comum, mas com pessoas extremamente reprimidas, cauterizadas em comportamentos anti-sociais e motivações práticas, objetivas.

A mulher tem o poder de transformar o certo em incerto e introduzir o caos, fazendo com que o homem deixe de olhar apenas dentro de si mesmo e enxergue uma nova motivação. A situação é recorrente, os personagens masculinos são abalados de suas convicções ao entrar em contato com “a” mulher, mas o envolvimento nunca é fácil e seu potencial transformador também pode exercer um efeito destrutivo.

A narrativa segue lenta e pausada, alternando os pontos de vista de maneira a oferecer um complexo quadro emocional escondido sob camadas de gelo, frieza, timidez e outros tantos desencontros. O clima invernal e monocromático contribui para o estado de melancolia e introspecção gerais, nos deixando até um pouco deprimidos. Se fosse um filme, seria daqueles que você vai ver para se maravilhar com a fotografia ou a cadeia de relacionamentos.

SPOILERS!!!

Ele era, antes de tudo, um homem de palavras: ser de carne e osso vinha em segundo lugar.”

Identifiquei-me um pouco com a frase do Midas pai, afinal a vida é muito mais fácil debruçado sobre um teclado! Midas filho optou por fotografias, seu olhar e pensamento capturado pelas imagens e efeitos de luz. Tão iguais e tão diferentes!

Não há esperança. Viva tudo agora porque o amanhã não passa de ilusão. Estou sendo um pouco dura, mas essa percepção de clichê medíocre me perseguiu em referência a este livro. Como aqueles bolos mega confeitados e vistosos de pasta americana que se provam desprovidos de sabor. Não posso me negar a tocar neste assunto mesmo admitindo que existe uma parte que vale a pena e é muito bem feita, talvez aquele recheio que salva o bolo da completa apatia.

Como assim não tem explicação para nada? O fenômeno foi observado e seu desdobramento se tornou conhecido de poucos, MAS... em nada se avançou! Um lugar em que vacas voam, pessoas viram vidro, mas nada disso importa, pois a vida segue seu ciclo inexorável. A mensagem tem seu valor indiscutível, mas o que torna o livro único e diferenciado não!

Fiquei com cara de besta, querendo saber o que causava a doença do vidro, o que significava, ou porque existia um gado voador e até as confissões que existiam na carta do pai de Midas! Queria entender e ver as coisas sendo explicadas, mesmo que já não houvesse salvação! Enquanto a intimidade desconcertante e psicótica de Carl é trabalhada com maestria, o curiosíssimo Sr Stallows mal da o ar de sua graça?!


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