segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia – O Nome do Vento – Patrick Rothfuss

Sinopse: Kote é o enigmático dono de uma hospedaria. Quando a paz da cidade começa a ser abalada, descobrimos que ali está o homem, cuja fantástica história alcançou os quatro cantos do mundo. Mais do que seus feitos lendários, somos convidados a conhecer a verdade por trás do mito de notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral e assassino infame. Assim mergulhamos numa empolgante narrativa que remonta aos seus tempos de infância, para saber como o artista de uma trupe itinerante acaba se interessando por magia e seguindo em busca dos temidos demônios conhecidos como Chandriano.

Qualificação: Excelente!!

Resenha: Como posso explicar o quanto é bom?? Ao dizer que é inteligente, complexo, emocionante, intrigante, dinâmico... me faltam adjetivos para descrever, então tentarei transmitir a essência nas linhas subsequentes.

Amo a riqueza do livro. As lendas por dentro da história, as canções, os ditos populares, a mitologia cheia de contornos, todo um universo particular que dá profundidade às cenas, aos lugares, aos personagens. Admiro demais a forma interessante com que as situações são construídas, às vezes sem qualquer significado maior aparente, num crescer inesperado em que as coisas se conectam, se completam, se encaixam.

Comecei com a sensação de que tinha uma grande aventura nas mãos, daquelas que precisam de tempo e detalhes antes de partir para o que interessa. Depois verifiquei que o autor é da teoria de fazer devagar e bem feito, confirmando meu raciocínio inicial, mas a verdade é que não foi bem assim. Se por um lado muitos feitos lendários ficaram de fora deste volume, toda construção dos elementos não foi nem um pingo enfadonha ou desprovida de aventura. É muito rápida a identificação e o interesse despertados por Kvothe, ainda mais sendo alimentados por uma rede de boatos contraditórios e exagerados como compete a uma verdadeira celebridade.

O Kvothe é um prodígio, alguém a ser notado e temido, mas o que me encanta sobremaneira nele é poder compreender a complexidade de seus sentimentos e atitudes, é sentir junto com ele os acontecimentos que moldaram sua personalidade tão característica e poder acreditar nele como indivíduo multifacetado. Somos apresentados a um ser fantástico e surreal no qual fica difícil acreditar, mas a história que ele conta desmistificando a si mesmo, não é menos incrível, porém muito mais crível. A coisa mais difícil de lembrar é a idade dele, não em números, mas em verdade, em conformidade com as situações.

A fama não existe sem razão e, embora existam inconsistências e exageros nos relatos, é divertido observar como o próprio Kvothe contribuiu com a rede de boatos e intrigas, às vezes propositalmente, outras nem tanto. Fato é que nada escapa ao jovem e a cada instante ele é instigado a agir de acordo com algum de seus inúmeros talentos.

Mergulhar nas memórias de Kvothe nos faz esquecer o presente. Tem momentos em que volta à pousada e eu tomo aquele susto, como se acordasse num lugar diferente e precisasse de um tempo para entender aquilo que meus olhos estavam vendo.

Um recurso muito inteligentemente usado pelo autor é a antecipação de eventos distantes. Você fica ciente de que aquilo vai acontecer em algum momento e o coração fica na mão em cada oportunidade do evento se concretizar. Assim, cada acontecimento é carregado de suspense e tensão, nunca estamos tranquilos em relação ao personagem ou situação.

De mais a mais, cada etapa na vida de Kvothe foi um degrau importante de aprendizado e nós podemos identificar a importância e as consequências à medida em que elas vão se sucedendo.

SPOILERS!!
“O dia em que nos inquietamos com o futuro é aquele em que deixamos a infância para trás.”

A infância foi tragada de Kvothe aos 12 anos. A tragédia anunciada ainda teve um impacto tremendo na minha leitura. Foi uma daquelas coisas que estavam para acontecer, que eram esperadas, mas não deixam de ser difíceis de acompanhar. Como não se apegar àquele garoto esperto e curioso, cheio de talentos e habilidades que nem ele mesmo se dá conta de ser? Como não se familiarizar com aquele clima de tribo, de trupe, dos Ruh, com sua excelência, dignidade e cultura, com sua sabedoria e unidade?

Tarbean é um trecho duro de acompanhar. A vida nas ruas é uma provação, mas o pior, na verdade, é o topor mental de Kvothe, que não lhe permite reagir com nada além de seus instintos de sobrevivência. Em todo o tempo eu ficava achando que Pike iria aparecer e fazer algo totalmente perverso, acho que adquiri alguma desconfiança junto com ele!! Uma das coisas mais inesperadas nesse período foi ouvir a lenda de Tehlu através de Trapis, também foi muito bonito e deu um significado especial. Fiquei muito aliviada quando ele finalmente consegue sair da cidade.

Introdução à Denna. Caí feito um patinho no laço do autor e achei que “A” mulher seria um personagem novo!!! Depois de surgir esplendidamente oculta sob a voz de Aloine, eis que deparamos com aquela garota de antes!! Se não fosse o floreio de Kvothe contando, certamente teria desconfiado disso. O lance neste romance está na inocência insuspeita de ambos. Cada um pensa o pior sobre a reputação do outro, mas a fama não tem qualquer proveito para ele e, imagino, nem para ela. 

É meio desesperador e exasperante que Kvothe esteja sempre no limite da pobreza. Cada vez que ele parece começar a melhorar a maré vira e ele volta à estaca zero, se equilibrando, vivendo um dia depois do outro. Também me deixa com os nervos à flor da pele toda situação com Ambrose. Não tem jeito de não odiar o Ambrose depois que causa o banimento de Kvothe do Arquivo, mas a proporção em que a situação vai se agravando dá vontade de gritar mesmo! Não foi à toa que o nome do vento foi convocado naquele momento.

Falando em nome do vento, durante a nova convocação dos professores fiquei esperando Elodin se pronunciar, porque parecia mesmo certo que ele o faria, os professores deixam isso bem claro no fim, mas o fato é que da maneira que a reunião foi conduzida a gente chega a pensar “pronto, foi agora que se acabou todo!”.

Preciso então fazer um parênteses para ressaltar toda parte dedicada ao músico. A relação com o alaúde e a música em si é tão profunda e bonita que faz parte da própria essência do jovem. Proporciona algumas das passagens mais carregadas de sensibilidade e emoção, me levando a conflitos e extremos tão grandes quanto aqueles que ele vivencia. Senti doer as duas perdas do alaúde mais do que a morte de muitos personagens aleatórios por aí afora.

Como assim, perdendo os poderes??!!! Por essa eu não esperava, mas... talvez devesse, né? Muito curiosa sobre os motivos que levaram Kvothe a viver na forma presente, escondido na pousada. Devo acrescentar aqui que os eventos presentes também começam a ganhar proporções, como se em determinado momento a história fosse prosseguir dali.

Tomei um susto com os cascos de Bast!!! Então ele deve ser um sátiro ou algo similar na mitologia do livro. Deve ter uma boa história envolvida nisso também, e devo confessar que aquele final dele pressionando o Cronista me soou meio suspeito.

Dei boas risadas com aquele criador de porcos e seu “sotaque das profundezas do vale”. A trama toda do casamento foi esquisita. Tive a impressão de que o misterioso candidato a mecenas de Denna pode estar relacionado com o Chandriano. É certo que ela não contou tudo que aconteceu. De qualquer forma, confirma a teoria de que eles não querem qualquer informação sobre eles circulando, especialmente potencias maneiras de rastreá-los ou combatê-los. Me pergunto se a versão da história de Lanre contada por Skarpi era a verdadeira e qual destino do velho contador.

Do outro lado da guerra, por assim dizer, estão os Amyr, tão misteriosos quanto o próprio Chandriano. Talvez a dificuldade em comprovar a existência dos Chandriano faça com que os Amyr atuem em secreto, para não serem desacreditados, afinal no populacho é consenso de que tudo não passa de crendices ou contos de fada. E, partindo desse pensamento, fico pensando sobre Lorren, tentando me decidir se ele pode ter mais conhecimento do que revelou até agora no assunto, inclusive aproveitando a jogada de Ambrose para banir Kvothe do Arquivo. Fato é que ele parecia um personagem promissor, potencial, mas ficou distante oculto, atiçando minha curiosidade, suspeitas e teorias conspiratórias!!

Quem diria que as ruínas do casamento desembocariam num dragão viciado (literalmente)??!! Quase tive uma crise de riso quando Kvothe descobriu porque o bichinho ficava voltando para aquele trecho de floresta mal acabado.

Louquinha para saber sobre o tal “pacto com o diabo” e “luta com o anjo” por causa da mulher, e mesmo que não tenha sido exatamente nesses termos, já li o suficiente para criar boas expectativas.

PS: Ficou meio extensa, mas nem de longe suficiente!!

2 comentários:

  1. eu tava no onibus quando eu tava lendo o capitulo do dragão... ainda bem que eu moro no ultimo ponto e o cobrador chamou a minha atenção e perguntou:"moça, vc num vai descer aki?" KKKKKKKKKKKKKKKK foi hilário!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Kkkkkkkkk!!! Essas coisas acontecem comigo também!!
      Nem sei se é pior quando acabo rindo ou quando tento segurar.

      Excluir