quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A Song of Ice and Fire – As Crônicas de Gelo e Fogo – A Dance with Dragons – A Dança dos Dragões – George R R Martin

Sinopse: É hora de saber o que anda acontecendo ao Norte, longe do centro de poder, também os acontecimentos junto à Muralha, bem como do outro lado do mar. Uma vez que as tramas se alinhem à movimentação do sul, o volume segue em frente, coeso rumo ao inverno.

Qualificação: Ótimo!!

Resenha: Envolvente e tenso como toda a saga, porém menos surpreendente e, por vezes, um tanto maçante.

Sim, teve sua cota de reviravoltas e momentos em que respirar se tornou algo difícil, mas o rumo do volume, na maior parte do tempo, seguiu sólido e consistente sem espaço para maiores surpresas. Talvez a experiência dos outros livros nos leve a ser um pouco mais cautelosos e desconfiados no que tange à saga, de modo que nosso coração endurecido já se encouraça e nosso nariz maltratado já sabe farejar o odor pútrido de desgraça e miséria. Quem sabe?

Havia um tempo desde que lera o volume quatro, mas quando me dei conta de que fora em 2012 cheguei a me assustar. Àquela época este livro não existia e, depois que saiu, acabei adiando a leitura por uma razão ou outra. Eis que o livro seis não ficou pronto e o seriado promete antecipar muitas informações, então me senti obrigada a rever meus conceitos e colocar a saga em dias na esperança de conseguir não ser soterrada pela avalanche de spoilers que promete arrastar as redes sociais em breve.

Retomar foi mais fácil do que o previsto. Apesar de não lembrar com precisão de muitos detalhes apresentados nos volumes anteriores, a narrativa faz a gentileza de reavivar nossa memória sobre os principais pontos. Houve aqueles momentos iniciais em que a temporalidade causa certa estranheza e confusão, trazendo trechos do passado de personagens cujo destino já se encontra bem além daquele ponto. Mas em pouco tempo já estava envolvida na leitura, com uma fome crescente de saber, devorando páginas em cada momento disponível. Foi bom, terminei rápido, com sobra para ver e rever o seriado antes da nova temporada, mas confesso que desejo mesmo é ter o volume seis nas mãos... e o sete se Martin assim nos conceder...

Alguns dos meus personagens favoritos estão de volta, novos personagens nunca deixam de ser acrescentados e a enormidade da saga continua a fermentar. Parece que sempre existe um recanto a explorar, uma história do passado para trazer à tona, uma cultura a ser desbravada. Embora parte da graça esteja nisso, chegou num ponto em que me sinto um pouco saturada de novidades, um pouco impaciente com o ritmo junto aos personagens conhecidos e acabo não absorvendo muito para além do que já interessa ou cativa. Queria que as peças do tabuleiro fossem movidas sem ter novas acrescentadas, desejo conhecer destinos, encontrar respostas, enfrentar jogas ousadas que apontem para um xeque-mate.

Neste volume seguimos para o Norte, onde os Bolton fazem planos e acompanhamos os passos de Jon, Stannis e do Povo Livre subjugado na batalha. Seguimos para o outro lado da muralha, onde Bran se aventura em busca de conhecimento warg e para o outro lado do mar, onde Tyrion e Dany são responsáveis por nos mostrar o saldo das batalhas travadas. Por fim, voltamos a Porto Real e damos mais alguns passos adiante na narrativa.

SPOILERS!!!
“...a noite é escura e cheia de terrores...”

Tenha medo... muito medo do inverno que se aproxima! Guerra e morte em toda parte não somente marcam o presente, mas traçam um feio desenho sobre o futuro. O tempo de plantar e colher se esgota, mas pouco se colhe nas imensidões de terras devastadas por saques e incêndios. As provisões de todos os lugares têm sido consumidas, roubadas e desperdiçadas em banquetes, acampamentos e cercos de guerra.

Toda vez que um passo adiante é dado, parece que dois passos retrocedem!! Quando procuro olhar ao redor, tudo que vejo é morte e destruição. Houve um tempo em que esperei por um final feliz, mas este já se foi, junto com personagens e esperanças vãs. Hoje em dia a imagem que mais me vêm à mente é a de Dany frente ao trono de ferro sob uma chuva de cinzas.

A pata da aranha é a maior responsável pela teia que se constrói ao longo do volume cinco. Embora seja citado com relativa frequência, é possível esquecer ou ignorar o tamanho da sua relevância se não estivermos realmente atentos. Entretanto... desconsideremos a parte final, em que pessoalmente lida com Sor Kevan e Meistre Prycelle e vejamos... o que resta? Só pra começo de conversa, Tyrion, Dany, Aegon e os três dragões devem sua existência a ele, que tal?

Neste volume tomamos conhecimento do quanto Varys serve à causa Targaryen. Ele salvou as crianças, manteve em segurança, proporcionou vantagens e enviou aliados sempre que pôde. Barristan, Jorah, Illyrio, Tyrion, Connington, todos se juntaram à causa por seu intermédio. Já sabíamos que se tratava de um dos poucos grandes jogadores, junto com Petyr, mas é sempre delicioso ir descobrindo suas armas e estratégias dentro do grande tabuleiro.

Depois de um volume inteiro sem diversos personagens, estava com expectativas muito elevadas para alguns deles. Fiquei um tanto desapontada, embora impaciente também seja uma boa palavra neste caso.

Dany tenta se estabelecer numa das cidades conquistadas, mas a manutenção da ordem se apresenta um desafio maior do que guerrear. Sem conselheiros qualificados e dona de um grande coração, a rainha dos dragões sofre e se questiona sobre cada medida adotada, cada perda sofrida. Para piorar as coisas, se depara com uma possibilidade aterradora: seus filhos cresceram o bastante para matar pessoas.

Uma pausa necessária na sucessão de conquistas, um treino na arte de governar cercada de serpentes. Compreendo a necessidade e o valor contidos na proposta, mas tenho que dizer o quanto foi exasperante acompanhar! Ver o quanto ela se esforçava pela paz, cedendo aos poucos e desfazendo tudo que lhe dava característica era de dar nos nervos! Acrescente uma lista de nomes que me confundiam mais que qualquer coisa! Acima de tudo, era absurdamente ingênuo da parte dela não entender a proporção de seus atos junto a todas as cidades escravagistas ao redor.

Se pudemos aprender alguma coisa das aulinhas de Tyrion, é que toda economia local se aperfeiçoou no tráfico de escravos como resultado direto da época de devastação dos dragões. A terra se tornou pobre para plantio, devastada e desértica. O único lugar que prosperava era Valíria, onde dragões e feiticeiros concentravam seus poderes e riquezas, até que veio a grande destruição que a devastou em apenas uma noite.

Todo esse conhecimento que nos foi apresentado dá conta de algumas conclusões importantes. Uma delas é que a presença de dragões pode deixar apenas um rastro de destruição em seu caminho. Outra é que a Baía dos Escravos não abriria mão facilmente da sua única fonte de riquezas.

Inquietação em toda parte. Por quem era dono de escravo e por quem se tornou liberto já seria de se esperar. Mas obviamente que as demais cidades ficariam alerta! De um lado os senhores temendo a vinda da libertadora, do outro os escravos rezando por sua vinda. Quando Quarth manda um representante com presentes para a causa magna da Rainha, a mensagem era mais do que clara: vá embora e nos deixe em paz! Não adianta afirmar que não tenciona atacar Pentos, ou que não vai mais interferir nos negócios de Astapor, a presença dos libertos na sua cidade é suficiente para causar instabilidade.

E apesar de todos os cuidados, o panorama não é nada favorável. Olhar para trás e ver Astapor totalmente destruída é duro. Saber que suas escolhas podem definir a vida ou morte de milhares certamente tornou Dany mais consciente de suas responsabilidades, fraquezas e necessidades (“Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativas” já dizia o Pequeno Príncipe!).

Quando se libertou das sedas e pompas, guiada apenas pelo amor materno, pelo medo de ver seu filho machucado, finalmente foi capaz de usar seus instintos para educar a cria. Foi uma dos trechos mais emocionantes do volume. Esperei que Tyrion lhe trouxesse o conhecimento necessário para lidar com os dragões, mas fiquei muito mais satisfeita em ver que ela era capaz por si mesma, num passo natural de amadurecimento na relação entre eles. Embora ainda tenha muito o que fazer neste sentido, diante do perigo iminente Dany chamou e Drogon veio, foi montado, direcionado e atacou conforme sua vontade.

“Para ir em frente, tenho que voltar para trás” ela disse. Me pergunto se naquele momento não decidiu que “voltar” significava reunir novamente o khalazar que outrora fora comandado por seu esposo, pois foi então que, ao invés de fugir no dorso de seu filho, ela preferiu investir contra o batedor e aguardar ao lado do dragão a chegada de Jhaqo. Posso estar equivocada, mas sua postura soou mais como um desafio e de alguma maneira ela pretende retomar seu lugar de origem como khaleesi. Este último capítulo, por sinal, foi muito mais interessante do que parecia à primeira vista, retomando vários aspectos e personagens de sua jornada de modo que ela pudesse reafirmar sua identidade antes de seguir adiante.

No caso de Tyrion, cada trecho era uma aula de história. Uma viagem lenta, arrastada, que irritava até mesmo o personagem. Era comum que dispersasse em pensamentos por pura falta do que fazer. Apesar de apreciar seus conhecimentos, saber para onde se dirigia aumentava a angústia sobre a lentidão e as intempéries do caminho. Sim, deveras proposital e típico nos infundir um desejo somente para nos privar de usufruir dele. Esperava que ele pudesse chegar e auxiliar Dany nas questões políticas e diplomáticas que se enredara, mas ele nunca chegou, nem mesmo tarde demais como o príncipe dornês (segura que retomo este ponto mais adiante).

Ainda assim, não desmereço as aventuras vividas por Tyrion, uma das quais vindo a revelar a existência de outro Targaryen. Fiquei muito animada com a descoberta deste outro ramo, que conta com a lealdade da Companhia Dourada e uma pretensão forte ao trono de ferro, bem como desponta como uma possibilidade a ser considerada no que diz respeito aos dragões.

Outro forte ponto de alicerce do volume está centrado em R’Hollor e seus devotos. Seja Melissandre junto a Stannis e Jon, Moqorro junto a Victarion ou Benerro a pregar entre os escravos de Volantis, temos uma crescente influência desta religião e seus sacerdotes em pontos sensíveis da trama. Só o fato de se postarem contra os Outros na Muralha e apoiarem a causa libertária de Dany na Baía dos Escravos, fazem com que mereçam um pouco de atenção. E, se nos ativermos a isso, podemos até mesmo crer que seus objetivos são nobres e válidos, que pouco lhes interessa o poder e o destino do trono de ferro. No entanto, não posso esquecer que mortos também levantam e matam sob domínio do deus da luz. Parte do festim dos corvos se deveu à matança de zombie Cathy, então, que pensar desse lado da coisa?

Victarion surge no meio do nada como mais um pretendente para a rainha dos dragões. Embora sua pretensão seja risível, ele contou com minha torcida no que se refere a pegar os navios do cerco yunkita desprevenidos. E se um sacerdote vermelho está direcionando suas batalhas em proveito da rainha, aí tem coisa. Ele vem de uma região em que escravos aguardam por libertação e não deve ser por acaso que foi parar junto ao homem que possui um ítem mágico (tão D&D isso, gente!) para sujeitar dragões.

Por hora, me recuso a crer na morte de Stannis e Jon. Um pensamento ingênuo em se tratando de Martin? Talvez. Mas existe um lado nesta saga em que é preciso acompanhar o desenrolar para separar os mortos dos não mortos, dos quase mortos e dos ressurgidos.

Os Bolton são a força dos Lannister no Norte. O terror infundido pelo bastardo desagrada os lordes do Norte e qualquer passo em falso pode estourar em guerra entre os aliados. Fedor sentiu na pele o que significa ser vítima do sadismo de Ramsay e sua verdadeira identidade nunca foi um mistério. Devo acrescentar aqui uma espécie de parênteses, pois foi justamente por ver uma cena de Theon sendo torturado na série, muito antes de vislumbrar o destino do rapaz nos livros, que me fez desejar correr com a leitura e colocar tudo em dia (livro e série).

As torturas a que Theon é submetido são tenebrosas. Quando me deparei com Fedor, estive me perguntando se algum ser humano poderia merecer aquilo, por pior que fosse seu ato. Recordei o momento em que acreditei que ele tivesse matado os garotos Stark, quando senti uma repulsa enorme pelo personagem, quando lhe desejei um destino terrível e cruel, mas nem isso me acalmou o coração. Saber que ele matou outros garotos, que não foi responsável por muito do que lhe foi atribuído, não muda o fato de que matou, traiu e destruiu. Também não muda o fato de que não sou capaz de desejar este tipo de coisa e acabei sendo solidária à sua dor. Que ele encontre redenção em algum ato e a morte se tiver que ser. A existência de Fedor me deixa tão desconfortável quanto a de Ramsay e suas presenças no Norte parece uma espécie de sacrilégio. Desculpa mundo, tenho apreço a Winterfell, à Casa Stark e aos Primeiros Homens.

Demorei a perceber que Abel era Mance. Só caiu a ficha quando ele e as mulheres começaram a tramar com Theon a fuga de “Arya”. Diante dos acontecimentos efetivamente narrados, parece muito plausível que o grupo enviado por Jon tenha sido capturado/esfolado. No entanto, tenho grande dificuldade em acreditar nos demais fatos narrados pela carta.

Uma vez que Theon e Jeyne chegaram ao acampamento de Stannis pouco antes do ataque, seria de esperar que também fossem capturados. As condições de ambos, aliada ao péssimo clima e precariedade de recursos do acampamento não leva a crer que poderiam escapar de um cerco com sucesso, ainda que acompanhados do banqueiro bravosiano e seus guias. Também desconfio que Jeyne não passaria por Arya entre tantos fieis ao Norte, mas nem vou entrar nesse mérito. De qualquer forma, uma vez que Stannis subia para resgatar Arya das mãos do Bolton e ela lhe aparece às portas do acampamento em fuga, a investida perde parte do sentido, embora um retorno também fosse algo inviável.

Se houve algo no que me alegrei um tanto, foi saber, ainda que vagamente, notícias de Rickon. Enquanto é de conhecimento geral que o cavaleiro das cebolas perdeu a cabeça, agora é sabido que ele se encontra numa missão secreta deveras especial. Uma vez que nada mais foi comentado sobre o assunto, mantenho expectativas sobre a aventura que pode resultar num apoio importante para Stannis e reaparecimento de um herdeiro legítimo para Winterfell e os Primeiros Homens. De todos os Starks é o único que ainda parece poder assumir o posto.

Acredito que as punhaladas não representam um fim para Jon Snow. Não duvido da capacidade de Martin para mata-lo e sei que o meu desejo pessoal fala em favor do jovem, mas em última análise, o que me faz realmente ter esperanças é a fé. Melissandre pede a Jon que venha até ela DEPOIS que as coisas preditas aconteçam. Ele pode sobreviver ou não, mas tenho a sensação de que passará a lhe dar ouvidos a partir de agora.

Com a promessa de voar, Bran acolhe o destino de se tornar um vidente verde. Parece muito pouco sobreviver por um tempo fora do comum e acessar as memórias de cada represeiro. Se transformar numa espécie de homem-planta, fixo do espaço, abdicando de qualquer convivência direta com o mundo exterior, da possibilidade de amar, parece um preço elevado, mesmo para um garotinho que não pode andar. Será que um dia ele será tão forte à ponto de voar com um dos filhos de Dany?

Apesar de tudo que foi visto, não ficou claro o que Bran pode fazer, nem como deve influenciar o rumo dos acontecimentos. Fica a sensação de que ele será fundamental em algo, mas a verdade é que ainda não realizou nada de concreto, ao menos que saibamos. E, no fim, me pergunto se tudo estaria mesmo interligado de alguma maneira. Se cada personagem tem uma relevância, ou alguns têm significado apenas em si mesmos, sem maiores implicações. Por mais que fique feliz quando Arya entra em cena, também me pego esperando o momento em que ela fará algo de relevância no contexto geral e chegando ao mesmo questionamento.

Outro momento bastante marcante foi a exposição da vergonha de Cercei. É claro que a leoa demoraria a ser subjugada e, mesmo neste momento, tentaria manter o orgulho. No entanto, parte dela teve aquele instante de consciência sobre a verdade que foi bom de acompanhar (mas nem de longe tudo que ela merece). Ela vai continuar a lutar e mostrar as garras, sem dúvida. Está só esperando uma oportunidade, simulando uma falsa modéstia até o julgamento. E se depender de Varys, o caminho para a bagunça é todo dela. Não sei o que a espera, mas nutro aquele desejo de que seu destino termine nas mãos de Arya.

E isso tá muito grandeee!!!! Um beijo em você que leu até aqui, não pretendia ser tão extenso!!!! Vou finalizar fazendo uma menção honrosa ao príncipe Quentin Matell. O príncipe foi persistente em sua missão e tinha um ponto válido em sua louca investida para domar um dos dragões. Torci para que o cheiro de tragédia não viesse a infestar o ar, mas não esperava realmente nada diferente. Pagou com a vida, coitado. Um minuto de silêncio aqui.

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