terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Estranho Caso do Cachorro Morto – Mark Haddon

Sinopse: Christopher Boone sabe de cor todos os países do mundo e suas capitais, assim como os números primos até 7.507. Gosta de animais, mas não entende nada de relações humanas. Ele tem 15 anos e sofre da síndrome de Asperger, uma forma de autismo. Um dia ele encontra o cachorro da vizinha morto e é acusado de assassiná-lo. Depois de passar uma noite na cadeia decide descobrir quem matou o animal e acaba descobrindo muito mais do que procurava.

Qualificação: Excelente!!

Resenha: É muito difícil definir esta leitura. É um livro tão singelo e bem feito que me deixou extasiada, tocada, realmente muito comovida. As metáforas utilizadas em toda narrativa foram perfeitas e de fácil compreensão, o livro é muito rico justamente por fazer-se entender com perfeição.

A trama se descortina sob o olhar extremamente matemático de Christopher revelando um ser humano tão complexo e mal compreendido da maneira mais simples possível. Somente ele é capaz de explicar de forma clara e direta os comportamentos de aparência tão bizarra para quem observa de fora.

Acompanhamos com interesse a forma com que ele lida com a morte do cachorro e depois resolve solucionar o mistério apesar de todas suas limitações e temores, no entanto, o mistério em si logo passa para segundo plano, pois não é difícil para o leitor juntar as informações e ter uma boa ideia do que de fato aconteceu. Acontece que Christopher não consegue trabalhar a mente da mesma maneira que nós e segue colocando a sua lógica nos fatos da vida para poder avançar na investigação.

O caso investigativo leva o garoto a sair da rotina segura e confortável. Ele começa a correr riscos cada vez maiores e tenta desesperadamente equilibrar as novas situações no seu universo particular. Quando verdades absolutas começam a mudar ele se depara com uma crise sem precedentes.

A disparidade na forma de pensar é fascinante e desesperadora ao mesmo tempo. Enquanto ele sonha com um mundo diferente no qual ele se encaixa perfeitamente e todos se comportam igual a ele, vive uma realidade bem distinta, na qual as expressões faciais representam um desafio inalcançável e a matemática avançada representa um porto seguro, uma fonte de paz e tranquilidade.

O autor demonstra extrema sensibilidade ao transmitir as experiências de seu personagem e nos fazer compreender de maneira muito fácil e agradável todas as nuances de uma mente especialmente diferente. Acima de tudo nos transmite uma valiosa lição de vida, na qual percebemos que a diferença pode ser tão desconcertante a nos fazer sentir pequenos e enormes ao mesmo tempo, merecendo compreensão, ponderação e respeito.

SPOILERS!!!


Fiquei deslumbrada com a maneira de Christopher enxergar o mundo com tanta minúcia a ponto de sentir a sobrecarga pelo uso tão poderoso do cérebro. Ao mesmo tempo acho tão desesperador a forma de não conseguir relacionar os fatos e tirar conclusões óbvias sobre tudo que o cerca. Dá para entender porque as pessoas acabam se irritando com ele, especialmente aquelas que não o conhecem nem sabem de sua condição peculiar. Imagine aquele trecho no metrô quando ele quase é atropelado por causa do rato e, mesmo sendo salvo não suporta o toque de seu salvador. É de deixar qualquer um chocado, afinal falamos de um garoto de 15 anos com esta devida aparência!

O mais triste é a falta de sentimentos que cerca sua vida. Ele não consegue nem mesmo entender o desconforto que sente com a possibilidade de perder o exame de matemática avançada. A incompreensão sobre a necessidade do toque, do afeto é de partir o coração.

A vida familiar do adolescente vem à tona e acaba detonando um processo de pânico, uma crise de confiança enorme. Ele não consegue perceber as intenções de seus pais, nem os sentimentos conturbados que o cercam, mas apenas frases e ações concretas. Para ele o pai mentiu e matou, portanto representava um perigo: totalmente racional, sem considerar minimamente todos os sentimentos envolvidos ou mesmo compreender as atitudes do pai. Da mesma maneira, desconsidera o fato de que a mãe saiu de casa e o abandonou, encontrando nela algum conforto apenas por ser familiar.

Gostei do final positivo, focado nas esperanças, sonhos e vitórias do garoto. Vi-me lacrimejando e torcendo para que ele conseguisse seguir em frente e obter êxito nas suas investidas.

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