domingo, 23 de março de 2014

Adormecida – Anna Sheehan

Sinopse: Ela dormiu por mais de 60 anos. Todos que conheceu estão mortos. Herdeira de um império... qualquer um pode ser inimigo.

Qualificação: Bom!!

Resenha: Tomei um belo susto quando percebi que se tratava de ficção científica e não fantasia, mas o importante foi que gostei!!!

O livro foi claramente inspirado no conto da Bela Adormecida, mas não se prende ao universo mítico de contos de fadas, preferindo uma abordagem na linha da ficção científica, incorporando elementos tecnológicos e um panorama futurístico. O resultado é um trabalho surpreendente, que aborda preocupações contemporâneas e universais, levando o leitor a algumas reflexões no mínimo interessantes.

Cativante e bem elaborado, embora ofereça algumas situações bem previsíveis, o livro terminou com alguns pontos em aberto, me deixando na dúvida se a autora pretende dar continuidade. Apresenta vários personagens intrigantes, com potencial enorme, mas poucos são realmente desenvolvidos. No fim, apenas estes poucos conseguem despertar empatia.

Me tocou a forma de abordagem, a preocupação em mostrar uma garota que desperta para um mundo totalmente desconhecido, desprovida de todos aqueles que lhe foram familiares. Os medos, as dores, as perdas, a confusão, tudo estava presente dando maior credibilidade à estranha garota que dormiu demais.

O reconhecimento do mundo em que despertou, bem como a compreensão do passado e das mudanças ocorridas ao longo do tempo que ficou fora do ar, nos ajudam a montar o quebra-cabeça e descobrir os terríveis segredos que cercam o estranho caso da garota.

Rose Fitzroy esteve dormindo profundamente por décadas. Imersa num sono induzido, esquecida em um porão por mais de 60 anos. Tratada como desaparecida enquanto os anos sombrios pairavam sobre o mundo, foi despertada como por encanto, descobrindo-se herdeira de uma corporação multimilionária. Agora precisa descobrir como sobreviver aos perigos do presente e às sombras do passado.

SPOILERS!!!

Um final bem atual, em que a personagem descobre seu potencial e finalmente assume o controle da própria vida. Gratificante também, pois Rose passa por uma grande transformação, tendo sido educada toda a vida para ser obediente e não questionar, além de ser reprimida e sofrer bullying dos próprios pais!!

Foi um pouco chocante e muito surreal a verdade sobre os pais de Rose e seus possíveis irmãos. Muito tenso deparar com uma realidade de pais que simplesmente a abandonaram para morrer dessa maneira, embora uma metáfora bem aplicada com a realidade quando paramos para pensar.

Já era pedir muito que ninguém tivesse notado o desaparecimento de Rose, ou seu desenvolvimento totalmente atrasado de modo que a infância e adolescência tenham se arrastado por um tempo enorme - especialmente levando em conta que seus pais eram tão importantes e sua presença tinha destaque em eventos sociais da localidade. Imagine então acreditar que o mesmo se deu com mais duas crianças antes dela?!

Me diverti muito com as correlações e metáforas entre o livro e o conto. O sono induzido usado como um artifício em função da conveniência egoísta foi uma sacada genial, apesar de meio brutal também. Consigo perfeitamente imaginar pais criando filhos conforme suas próprias conveniências e caprichos, enchendo de calmantes, soníferos e tantas outras coisas! Foi bem cruel perceber a perspectiva inocente da garota, que aceitava como normal aquela realidade absurda porque era a única que conhecia. Gostei que a super proteção dos pais foi convertida num propósito mesquinho e fútil, que mais se preocupava com imagem e questões financeiras do que bem estar. E o beijo que a desperta sendo convertido em técnica de primeiros socorros??!!

Lidar com o presente nos proporcionou um passeio por temas complexos, como mutações genéticas, patentes, ética, desigualdades e preconceito. O drama de Otto e sua família foi apresentado com muito cuidado e riqueza de informações, assim pudemos não somente compreender, mas solidarizar com sua situação. Esperei que os outros colegas também tivessem momentos curiosos para contribuir, mas todos eles permaneceram afastados e desconhecidos.

Praticamente desde o princípio shippei a Rosa Selvagem com o Alienígena Azul. Não poderia ser diferente, afinal foram os dois personagens mais consistentes do livro, cercados de sentimentos e dramas compartilhados entre si e com o leitor. O relacionamento dos dois foi crescendo de maneira tão cute, tão palpável!!

Bren sempre aparecia como a sombra de seu avô. A fixação em descrever os olhos verdes da família deixou tudo bastante óbvio. Desde o primeiro momento desconfiei de que ali estivesse Xavier, portanto não foi nenhuma surpresa. No entanto, todo passado construído em torno da presença de Xavier foi muito bom de acompanhar e serviu para nos dar uma dimensão sobre o tipo de vida que Rose tivera até despertar no presente.

Apesar de criar um suspense em torno do Plastine, não foi realmente difícil perceber que se tratava de um trabalho de seus próprios pais. Diria que o elemento mais denunciador, por assim dizer, foi a poeira e o desuso acentuado por tanto tempo quanto Rose ficara desaparecida. O segundo, o acesso irrestrito à sua casa. Além disso, havia aquela diretriz primária desconhecida, levando a crer que matar não era o objetivo principal. Ainda assim, foi bem bizarro saber dos detalhes sórdidos.

A busca pelos demais irmãos, bem como a indefinição no campo amoroso me deixaram na expectativa de uma sequencia, mas não tenho maiores informações à respeito.


Nenhum comentário:

Postar um comentário