sábado, 9 de março de 2013

Nietzsche para Estressados – Allan Percy

Sinopse: Manual que reúne máximas do renomado filósofo e sugere aplicações práticas para o dia a dia.

Qualificação: Ruim!

Resenha: Como todo livro que pretende “ensinar” como vivermos melhor nossas vidas, tem sugestões aproveitáveis, que direcionam o olhar para um aspecto diferente do nosso pensamento e induz à reflexão, no entanto, infelizmente essas foram a minoria e se perderam num emaranhado confuso e pouco confiável.

Não posso afirmar que sou estressada, em geral prezo pela minha paz de espírito. A leitura veio por sugestão de um colega, muito mais pela veia pseudo filosófica, do que pela proposta anti-stress. No entanto, o reflexo indignado deste texto pode vir a passar a impressão oposta, de que sou uma bomba prestes a explodir... mérito do livro??

Foi uma experiência tumultuada, cercada de momentos inusitados. Pelo próprio formato de manual e proposta de reflexão, não é uma história contínua, que consumimos enquanto os olhos permanecem abertos, mas uma leitura quebrada, cheia de pausas e mudanças repentinas de raciocínio. Assim, houve dias em que li com bom humor e dei boas risadas, outros que o fiz com paciência e dedicação, e ainda outros em que o livro conseguiu o que parecia impossível: me estressou!

Não sou estudiosa da filosofia, nem conhecedora exímia dos pensadores, mas pensando bem (com trocadilhos!), o livro não se destina a essas pessoas, certo? Então, como não achar que estão forçando a barra ao ler como uma das máximas de Nietzsche que “A razão começa na cozinha”? Oi? O texto também não contribui em nada para consolidar a relação e explicar como o filósofo chegou a esta conclusão, nem sequer o que exatamente ele queria dizer com a afirmação. Isso me fez duvidar da base de referência primordial da obra. Então, busquei as referências bibliográficas para saber mais sobre a raiz de algumas pérolas e fiquei realmente chocada por não encontrar nenhuma de Nietzsche!

Sim, exatamente assim, entre as referências e outras sugestões nada é atribuído ao filósofo, o máximo que encontrei foi um estudo sobre ele. Me desculpe, Senhor Percy, mas seu livro perdeu toda credibilidade após esta constatação, mesmo com citações aleatórias a algumas obras em outros trechos. Concordo que o livro não deveria conter um pesado arcabouço teórico, mas nada impedia uma notinha de rodapé ou um banco de referências ao final, apenas para quem tivesse o interesse de verificar ou conhecer mais a fundo algum dos temas, especialmente os mais estranhos ou curiosos.

Além disso, pegar frases soltas sem trabalhar o contexto pode dar margem a muita distorção. Existem diversas passagens em que o texto não complementa a frase a que se refere, passando a impressão de inadequação ainda maior, como se a frase fosse apenas uma desculpa para o autor expressar suas reais ideias. Sou capaz de aceitar a frase “Precisamos amar a nós mesmos para sermos capazes de nos tolerar e não levar uma vida errante”, mas não consigo engolir a dica relacionada ao tema que me manda PARAR de analisar meus erros. Como perdoar ou aperfeiçoar minhas qualidades sem nem querer entender onde reside o erro? Em que isso vai contribuir para minha auto estima? Se deixar de ter senso crítico deve ser valorizado para combater o stress, prefiro morrer estressada. A falta de limites e equilíbrio é preocupante. Uma vez que o contexto da frase de Nietzsche é desconhecido, a quem atribuir tal constatação e desagrado?

Seria muito mais aceitável um manual honesto, em que o autor se valesse de diversas referências e experiências pessoais para orientar outras pessoas, sem a pretensão de usar a fama do falecido para chamar atenção sobre si. Certamente o teria tomado pelo que efetivamente é, não ficaria com tantas dúvidas sobre a idoneidade do pretenso conselheiro e teria boa fé sobre suas intenções em contribuir para meu crescimento pessoal.

Ficou difícil levar a sério a leitura e aproveitar as poucas passagens dignas de nota. Talvez o leitor menos exigente e/ou mais estressado consiga extrair melhor conhecimento e proveito, mas tudo que pude sentir foi o desejo de terminar de uma vez e aproveitar melhor meu tempo.

Ps: Detonar plástico bolha pode ser mais eficiente. Fica a dica! ;)



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