Sinopse: Cássia escolheu Ky, mas ele
foi mandado para longe. Ela está disposta a agarrar qualquer oportunidade de
chegar até ele, enquanto ele sobrevive ao inferno imaginando uma maneira de
voltar para ela. Xander ainda está por perto, desejando apenas uma chance de
ser notado. Cada um deles esconde segredos e anseios surpreendentes enquanto a
guerra faz estragos cada vez maiores.
Qualificação: Ótimo!!
Resenha: Gostei muito. Existe uma
aridez tão intensa mesclada com uma sensibilidade tão tocante que me atinge. Fui
devorando as páginas, sofrendo junto por tanta dor, querendo desvendar todos os
mistérios e entender aquela loucura toda.
O clima é
tenso, pesado e potencialmente explosivo. A Sociedade está em guerra contra o
Inimigo inominado e em diversas ocasiões me questiono se existe realmente um
oponente ou tudo não passa de uma grande farsa servindo ao propósito exclusivo
da própria Sociedade.
Extermínio. Todos
aqueles que não possuem o status de cidadão, que não se encaixam no perfeito
perfil traçado pela Sociedade estão sendo sumariamente eliminados. A Sociedade
quer o controle, obviamente, no entanto, tenho pensado se não existem mais
coisas escondidas sob esta concepção.
Ciente de sua
condição, Ky não tem ilusões sobre o papel que desempenha. Sua meta é Cássia,
mas para isso precisa assegurar sua própria sobrevivência e sanidade. Não há
espaço para lamentações, arrependimentos, nem mesmo culpa. Entretanto, onde
existe esperança e amor sempre há espaço para atitudes imprevisíveis e
gentilezas inesperadas.
Trabalhar nas
regiões mais ermas da sociedade não aproxima Cássia de seu objetivo: encontrar
Ky. Ela sabe que se houver qualquer oportunidade não hesitará, mesmo isso
significando deixar para trás sua família, seu par, seus amigos e até mesmo o
status de cidadã. O que ela não sabe é o que irá encontrar do outro lado. O que
ela nem imagina é que aquilo que procura pode estar bem perto, na direção
diametralmente oposta.
A narrativa
alterna os pontos de vista de Ky e Cássia. Os personagens são tão ricos, tão
intensos e determinados à sua própria maneira que é impossível não se envolver.
A jornada é de conhecimento, tanto sobre a realidade nas áreas limítrofes do
território da Sociedade quanto das outras possibilidades e formas de vida fora
dela. Além disso, funciona como uma peregrinação de autoconhecimento, testando
os personagens, evocando memórias, reflexões e associações.
Não poderia
deixar de citar como foram bem trabalhadas as abordagens sobre a efemeridade da
vida, o amor, a liberdade de expressão, entre outros. Uma crueza e
sensibilidade incríveis.
Depois de
algumas reviravoltas surpreendentes, o terreno ficou bem preparadinho para o
próximo volume e tudo que eu sei é que já não tenho certeza de quase nada!
SPOILERS!!!
Gente, o que
foi esse livro? Virou tudo do avesso e deixou a gravidade fazer o resto, porque
meu queixo foi caindo consideravelmente com as revelações que trouxe!
“Por que eles nos
odeiam tanto?”
Cheguei a
cogitar umas teorias loucas com a descoberta dos tubos de material genético dos
mais jovens. Por qual motivo estaria tudo tão escondido? Há quanto tempo? E se
todos os cidadãos fossem clones? Num ciclo de repetição que já durava gerações
inteiras? Com pares perfeitamente programados? Poderiam os reclassificados seguir
para descarte quando mudavam o curso repetido de suas vidas? Nada disso
justificaria a matança ou o sistema, mas explicaria um tanto!
“Quantos machucados
invisíveis são possíveis?”
Estava me
perguntando a mesma coisa! Sem desmerecer Cássia ou Xander, existe uma
distância enorme entre eles e Ky, Indie, Eli, Vick e tantos outros! A vida é
uma tragédia constante e insuportável para eles e existem diversas formas de
lidar com esta dor, mas a principal delas é o fervor pela sobrevivência. Para
continuar eles se agarram ao que podem e bloqueiam aquilo com que não podem
lidar, sempre seguindo em frente. Iguais e diferentes, cada um escolhe um
caminho. Acompanhar os POVs de Ky foi impactante e desesperador, pois sempre
ficava pior!
Quando Cássia
descobre a verdade sobre os anseios de Ky em relação à Insurreição é normal o
choque, o confronto, mas o que se seguiu foi lindo! Nunca esperei que ela
enxergasse ao final que ele permitiu que ela fizesse as próprias escolhas, ao invés
de envolvê-la de imediato com os rebeldes. Lógico que ela não sabe que Xander
lhe deu as mesmas opções, mas foi bom não ter que lidar com uma garotinha
adolescente de TPM, mas uma garota que fez uma escolha e ponderou as razões do
outro antes de crucificá-lo totalmente.
Fiquei muito
chocada quando Ky revela que foi o responsável pela alteração no cartão de Cássia.
Ele a via, a amava e sabia que ela sequer o enxergaria então decide investir
num plano super arriscado. Não foi um erro no programa, não foi um plano da
Sociedade, nem de uma Funcionária pesquisadora. Existe uma espécie de beleza e
lógica inenarráveis no ato do garoto, mas o fato é que eu nunca levantei essa
possibilidade! Confesso também que a palavra “trapaça” andou se insinuando para
me deixar dividida sobre a atitude.
Foi genial a
forma como Xander se fez presente no livro sem estar efetivamente participando
das ações. Mais até do que isso, o personagem segue em destaque, com potencial
para balançar o relacionamento de Cássia e Ky! Quero muito saber o que ele tem
feito, pensado e descoberto. Com todas as reviravoltas, ainda imagino que
Cássia fique com Ky e não seria nada demais prever que Xander com Indie.
Nem tudo foi
maravilhoso. Foi meio surreal e exagerado ver aquelas idas e vindas todas pelos
rochedos sem que fossem abordados, descobertos ou seguidos. Poderia ficar
citando falhas, mas só me atenho a elas quando realmente incomodam e este livro
consegue ser tão bom em tantas coisas que pude relevá-las sem stress.
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