Sinopse: Lauren tem uma boa vida: notas
medianas, amigos, popularidade e o namorado que toda garota quer. Então, por
que está tão infeliz? Quando Evan reaparece em sua vida as coisas começam a
sair do controle e ela se vê pressionada a tomar uma decisão... antes que uma
seja tomada por ela.
Qualificação: Excelente!!
Resenha: Tenho plena consciência de que
esta é uma das opiniões mais pessoais que emiti por aqui, portanto, peço
licença para trazer um texto diferenciado. Vamos trocar uma ideia?
De repente
alguém descreve com perfeição algo que você sempre tentou explicar aos outros
sem sucesso. Então é impossível não me identificar, ainda que as circunstâncias
sejam diferentes. Por outro lado, é complicado achar que isso vai acontecer com
todo mundo, uma vez que tantos anos se passaram antes que eu encontrasse alguém
que desse voz a estes sentimentos. Isso me leva a crer que a maioria das
pessoas não vai partilhar meu entusiasmo. Então talvez estejamos diante
daqueles livros que você vai amar ou detestar.
Indico especialmente
às pessoas introvertidas (note que eu não disse tímidas, são coisas diferentes,
ok?), racionais e indecisas, como eu mesma. Acredito que a leitura deste livro
há anos atrás teria me ajudado a passar por momentos críticos, então desejo que
possa contribuir para ajudar outras pessoas que ainda estejam se descobrindo.
O livro é bem
escrito, de linguagem clara e objetiva. Tem aquela qualidade peculiar das obras
da autora de tratar assuntos do cotidiano com profundidade sem ser prolixo. A
narrativa apenas vai se desenvolvendo, as situações se apresentando, então você
vai tirando conclusões sem que o personagem precise ser didático.
O argumento é
simples, você pode mesmo acreditar que é o tipo de história contada por aí
milhares de vezes, com toda razão. O que a torna especial não é a trama em sí,
mas a forma como é conduzida, a sensibilidade ao abordar os aspectos da
situação. A trama é uma receita para o desastre, tão nítida que causa angústia.
Mas se é tão fácil enxergar o problema visto de fora, seria você capaz de ter
empatia suficiente para entender os conflitos da protagonista?
Essa é a
história do que acontece quando seu sonho se torna realidade, mas você se sente
exatamente igual a antes.
SPOILERS!!!
“Quem iria querer renunciar a isto?”
Então você nem
se acha a rainha da cocada preta, mas por algum mistério da humanidade você foi
escolhida para desempenhar esse papel. E você está tão agradecida e encantada
com a oportunidade que não pode sequer cogitar que você não quer ser essa
rainha. Você não quer desapontar as pessoas, nem abrir mão de tal posição
porque, em primeiro lugar, você não deveria estar ali, em segundo, porque se
você se arrepender, nunca mais poderá voltar.
Então ali
estão todos os elementos que deveriam te completar e fazer feliz. Tudo aquilo
que você desejou ser ou conseguir está ao seu alcance, mas tudo que você
consegue sentir é um vazio absoluto. E aos poucos vai se tornando cansativo e
irritante manter o posto quando tudo que você queria era estar fazendo outra
coisa qualquer bem longe dali. E você começa a inventar desculpas para explicar
o egoísmo que lhe fez ficar em casa quando todos lhe aguardavam, ou começa a
boicotar a si mesma para que os outros deixem de depositar suas esperanças em
você.
É claro que
você não está sendo racional, mas tudo em que pode pensar é em manter o status quo. Você até pode ser despojada
da posição, afinal as pessoas só iriam se dar conta daquilo que você já sabia,
então tudo bem. É mais fácil que dar um basta e assumir que simplesmente não
quer nada daquilo (até porque você realmente acredita que quer tudo aquilo).
A sensação de
estar vendo de fora, como se fosse um filme e não a sua própria vida. Eu senti
isso. Eu descrevi isso exatamente assim para algumas pessoas ao longo da vida e
ninguém foi capaz de compreender. Quando li esse trecho fiquei tão maravilhada,
me senti tão empática! Vivi para encontrar alguém que sabe exatamente o que
quero dizer! Queria muito ter encontrado antes e compreendido de maneira mais
fácil o que isso significava!
Quando fui
lendo e vi a situação beirar ao desastre lembrei tanto de mim mesma e das vezes
que deixei as coisas chegarem a esse ponto! E à loucura de perceber que tudo
foi destruído, todos me odiavam e eu só sentia alívio de poder me afastar e
seguir outro rumo. Não precisava ser desse jeito, eu sabia, mas não tinha
capacidade de fazer diferente. Queria me agarrar ao que me fazia bem sem soltar
aquilo que deveria me fazer bem. E a racionalidade sempre me impedia de optar
pelo imprevisível e fugaz em detrimento do previsível e duradouro.
E em meio a
tudo isso o sentimento de culpa e de ser uma pessoa ruim. Porque a certa altura
você sabe que deveria tomar uma atitude, que acabará ferindo alguém. Então você
se tornou o tipo de pessoa que mais abomina e não se reconhece mais. Você não
sente empatia por outros em sua condição, antes se recrimina e odeia por ter se
tornado alguém assim. Vive culpada e triste e não pode nem mesmo explicar o que
te faz tão infeliz.
Tive que
passar por esse tipo de experiência antes de começar a compreender o quanto eu
me diferenciava das pessoas ao meu redor, antes de conhecer as coisas de que
realmente gostava e pelas quais ansiava, antes mesmo de sequer saber que elas
existiam ou onde encontra-las. Por isso, se posso dar um conselho, tenho a
dizer que o mundo tem muito mais a oferecer do que parece à primeira vista.
A oportunidade
de encontrar coisas e pessoas com afinidade nem sempre vem até nós e é assim
que muita gente pode levar a vida, sem nem mesmo saber que a vida tem mais a
oferecer. Mas se chegou num ponto em que a sua vida perfeita parece mesmo ser
vivida por outra pessoa, se chegou num estágio em que você olha para sua mão
como se fosse um filme com narrativa em primeira pessoa, aquilo nada evoca aos
seus sentimentos, não parece real, talvez seja o momento de expandir seus
horizontes.
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