sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Something, maybe – Elizabeth Scott

Sinopse: Hannah tem pais realmente embaraçosos e, depois de ganhar o tipo errado de atenção por muito tempo, ela aprendeu a ficar fora de vista. No entanto, essa postura esconde uma garota confusa e magoada que precisa aprender a ter autoconfiança e se relacionar com as pessoas, especialmente quando o coração começa a desejar sair da redoma.

Qualificação: Muito bom!!!

Resenha: Comecei a ler sem maiores pretensões e, na base do só mais um capítulo, quando vi o livro acabou!! Scott tem sido uma aposta certa quando estou com vontade de ler um bom livro, sem me prender a uma saga sem continuação imediata. Este é curtinho, simples, dinâmico e gostoso, cheio de mensagens escondidas na aparência de uma historinha cotidiana.

Adolescentes geralmente sentem muita vergonha dos pais, seja porque eles começam a exibir suas fotos mais bizarras como troféus, seja porque eles insistem em regular horários, amigos e namoros. Onde enfiar a cabeça quando mamãe usa as roupas mais inapropriadas possíveis até no supermercado e paga as contas prestando serviço via web, usando apenas peças de lingerie? E se seu pai fosse famoso nacionalmente por manter ninfetas de sua idade em seu próprio castelo das obscenidades, sempre cercado de câmeras?

É meio bizarro, mas paremos para pensar que existem pessoas assim, cujos pais resolveram se apropriar da liberdade como um elemento que existe para satisfazer seus interesses. Vale qualquer coisa em busca de dinheiro e fama. O sonho americano produz tipos disfuncionais e repugnantes que tem seu espaço e um valor duvidoso superestimado.

Em meio a relacionamentos tão vazios, Hannah tem medo de ser como seus pais e não consegue se aproximar das pessoas, menos ainda se forem do sexo oposto. Ela convive com as consequências das atitudes irresponsáveis de seus pais e tem medo de descobrir algum significado naquilo, de descobrir que aquele tipo de vida pode atraí-la de alguma maneira.

É óbvio que suas atitudes deixam muito claro o quanto ela é diferente, mas ela não está convencida. Um dia, quando criança, foi deslumbrada com a vida que o pai levava e não sabe até que ponto estaria disposta a viver como ele. Em seu mundo, sexo é palavra de ordem e não existe motivo para que se torne um tabu. Seus pais trabalham em função disso e dizem gostar do que fazem, então Hannah tem medo de experimentar.

Ser invisível é aquela ótima opção de quem não tem qualquer opção. Uma pessoa diferente e propensa a bully fica satisfeita quando não é notada e pode seguir sua rotina sem problemas. No entanto essa proteção cria uma barreira social cada vez mais profunda e impede a criação de laços de amizade ou relacionamentos amorosos. O que surge como bom se vira contra a própria pessoa e atrapalha um pleno desenvolvimento.

Num mundo em que ser mãe solteira/separada é o normal, as mulheres precisaram encontrar uma maneira de ser fortes e sobreviverem. Por mais absurdo que possa parecer, virar um objeto sexual se tornou uma opção até para mulheres independentes, magoadas e temerosas. A personagem pode ser um caso extremo (ou não), mas a mensagem se aplica a milhares.

A construção primorosa constrói e desconstrói possibilidades, nos levando a acreditar que as coisas são de uma maneira para desconstruir tudo na sequencia e revelar a verdade por trás da imagem. Isso acontece com todos os personagens e me pergunto se o “talvez” não se aplica justamente a essa necessidade de acreditar no melhor, nas segundas chances, na possibilidade de mudança.

SPOILERS!!!!

O mais surpreendente foi perceber o tumulto interior vivido por sua mãe. O maior medo dela era de que a filha encontrasse um amor e, devo acrescentar, que ela amasse e depois viesse a perder. Ela não conseguiu lidar com a perda de seu amado e desistiu de ser feliz. Decidiu viver sem pudores e sexo não era tabu, pois era mais fácil do que lidar com o fato de nunca voltar a ser feliz como outrora. Foi muito bonito quando ela enfim percebeu que apesar de tudo, valeu a pena amar e ela faria novamente, mesmo sabendo que sofreria depois.

Hannah percebe que nunca foi realmente vista ou teve qualquer chance de mostrar que ela era. As pessoas olhavam para ela e viam seus pais, esperavam que ela seguisse seus passos e não estavam dispostas a acreditar que aquela jovem pudesse ser diferente ou desejar coisas diferentes. Para uma adolescente construindo uma identidade a situação ficava ainda mais difícil de entender e superar, mas foi muito bom quando finalmente aconteceu.

Ninguém duvidava (creio eu) que Finn era “o” cara para Hannah. Engraçado como é difícil competir com uma idéia, percebo que isso acontece aqui. Finn luta desesperadamente para ter a atenção de Hannah, mas ao contrário dela, ele sabe muito bem quem é e não finge ser nada diferente disso. O grande problema nem mesmo era Josh, seu suposto rival, mas a idéia dele que Hannah havia construído em seu imaginário e não estava disposta a abrir mão.

Alguém duvidou que as câmeras iriam “aparecer” no meio do passeio com as “coelhinhas” a reboque? Mesmo depois de tudo é difícil definir o pai da Hannah. Ele é uma espécie de Frankestein, parte mídia, parte assistente, parte amantes, parte pai, parte homem e no fim não há nada definitivo, como se a verdade pudesse ser tudo ou nada daquilo. Muito bizarro!!

Desconfiei que Josh tivesse uma espécie de tesão recolhido pela mãe de Hannah, mas foi hilário do mesmo jeito, bem, talvez elas não tenham achado, mas foi. 

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