Qualificação: Muito bom!!!
Resenha: Comecei a ler sem maiores
pretensões e, na base do só mais um capítulo, quando vi o livro acabou!! Scott
tem sido uma aposta certa quando estou com vontade de ler um bom livro, sem me
prender a uma saga sem continuação imediata. Este é curtinho, simples, dinâmico
e gostoso, cheio de mensagens escondidas na aparência de uma historinha
cotidiana.
Adolescentes
geralmente sentem muita vergonha dos pais, seja porque eles começam a exibir
suas fotos mais bizarras como troféus, seja porque eles insistem em regular
horários, amigos e namoros. Onde enfiar a cabeça quando mamãe usa as roupas
mais inapropriadas possíveis até no supermercado e paga as contas prestando
serviço via web, usando apenas peças de lingerie? E se seu pai fosse famoso
nacionalmente por manter ninfetas de sua idade em seu próprio castelo das
obscenidades, sempre cercado de câmeras?
É meio
bizarro, mas paremos para pensar que existem pessoas assim, cujos pais
resolveram se apropriar da liberdade como um elemento que existe para satisfazer
seus interesses. Vale qualquer coisa em busca de dinheiro e fama. O sonho
americano produz tipos disfuncionais e repugnantes que tem seu espaço e um
valor duvidoso superestimado.
Em meio a relacionamentos tão
vazios, Hannah tem medo de ser como seus pais e não consegue se aproximar das
pessoas, menos ainda se forem do sexo oposto. Ela convive com as consequências das
atitudes irresponsáveis de seus pais e tem medo de descobrir algum significado
naquilo, de descobrir que aquele tipo de vida pode atraí-la de alguma maneira.
É óbvio que suas atitudes deixam
muito claro o quanto ela é diferente, mas ela não está convencida. Um dia,
quando criança, foi deslumbrada com a vida que o pai levava e não sabe até que
ponto estaria disposta a viver como ele. Em seu mundo, sexo é palavra de ordem
e não existe motivo para que se torne um tabu. Seus pais trabalham em função
disso e dizem gostar do que fazem, então Hannah tem medo de experimentar.
Ser invisível é aquela ótima
opção de quem não tem qualquer opção. Uma pessoa diferente e propensa a bully
fica satisfeita quando não é notada e pode seguir sua rotina sem problemas. No
entanto essa proteção cria uma barreira social cada vez mais profunda e impede
a criação de laços de amizade ou relacionamentos amorosos. O que surge como bom
se vira contra a própria pessoa e atrapalha um pleno desenvolvimento.
Num mundo em que ser mãe
solteira/separada é o normal, as mulheres precisaram encontrar uma maneira de
ser fortes e sobreviverem. Por mais absurdo que possa parecer, virar um objeto
sexual se tornou uma opção até para mulheres independentes, magoadas e
temerosas. A personagem pode ser um caso extremo (ou não), mas a mensagem se
aplica a milhares.
A construção primorosa constrói e
desconstrói possibilidades, nos levando a acreditar que as coisas são de uma
maneira para desconstruir tudo na sequencia e revelar a verdade por trás da
imagem. Isso acontece com todos os personagens e me pergunto se o “talvez” não
se aplica justamente a essa necessidade de acreditar no melhor, nas segundas
chances, na possibilidade de mudança.
SPOILERS!!!!
O mais surpreendente foi perceber
o tumulto interior vivido por sua mãe. O maior medo dela era de que a filha
encontrasse um amor e, devo acrescentar, que ela amasse e depois viesse a perder.
Ela não conseguiu lidar com a perda de seu amado e desistiu de ser feliz. Decidiu
viver sem pudores e sexo não era tabu, pois era mais fácil do que lidar com o
fato de nunca voltar a ser feliz como outrora. Foi muito bonito quando ela enfim
percebeu que apesar de tudo, valeu a pena amar e ela faria novamente, mesmo
sabendo que sofreria depois.
Hannah percebe que nunca foi
realmente vista ou teve qualquer chance de mostrar que ela era. As pessoas
olhavam para ela e viam seus pais, esperavam que ela seguisse seus passos e não
estavam dispostas a acreditar que aquela jovem pudesse ser diferente ou desejar
coisas diferentes. Para uma adolescente construindo uma identidade a situação
ficava ainda mais difícil de entender e superar, mas foi muito bom quando
finalmente aconteceu.
Ninguém duvidava (creio eu) que
Finn era “o” cara para Hannah. Engraçado como é difícil competir com uma idéia,
percebo que isso acontece aqui. Finn luta desesperadamente para ter a atenção
de Hannah, mas ao contrário dela, ele sabe muito bem quem é e não finge ser
nada diferente disso. O grande problema nem mesmo era Josh, seu suposto rival,
mas a idéia dele que Hannah havia construído em seu imaginário e não estava
disposta a abrir mão.
Alguém duvidou que as câmeras
iriam “aparecer” no meio do passeio com as “coelhinhas” a reboque? Mesmo depois
de tudo é difícil definir o pai da Hannah. Ele é uma espécie de Frankestein, parte
mídia, parte assistente, parte amantes, parte pai, parte homem e no fim não há
nada definitivo, como se a verdade pudesse ser tudo ou nada daquilo. Muito
bizarro!!
Desconfiei que Josh tivesse uma
espécie de tesão recolhido pela mãe de Hannah, mas foi hilário do mesmo jeito,
bem, talvez elas não tenham achado, mas foi.
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