sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Os 13 Porquês – Jay Asher

Sinopse: Para Clay, as fitas cassetes gravadas por Hannah não tem nada a ver com ele. Hannah está morta e seus segredos deveriam ter sido enterrados com ela. Mas a voz de Hannah diz que seu nome está em alguma parte desta história, de modo a torná-lo um dos responsáveis por sua morte e, apesar do espanto e medo, ele precisa entender como isso pode ser possível.

Qualificação: Excelente!!

Resenha: Genial! Muito perturbador, emocionante e bem bolado! Me fez ficar curiosa e seguir tão desesperada quanto Clay em busca da verdade.

Quando pequenas coisas se tornam grandes.

Como saber o que se passa pela mente de alguém? Como saber que um pequeno gesto pode atingir enormes proporções? Como lidar com a culpa por coisas que você nem tinha idéia de estar fazendo?

Não existe uma fórmula mágica, não tem como saber, mas... poderia ser evitado? Será que somos movidos por sentimentos como vingança e vergonha tanto quanto por amor ou respeito? Nossas escolhas e intenções nem sempre estão claras para nós mesmos, mas em diversas ocasiões podemos fazer uma opção muito simples entre o certo e o errado.

Fazer o certo dá trabalho, é chato, sem graça, exige esforço e muita força de vontade, por isso é fácil se permitir uma escorregada, talvez num único momento, e cometer um ato falho. Certamente, ninguém é perfeito, mas a leitura deste livro consegue transmitir um senso de responsabilidade com o qual não estamos acostumados. Faz-nos recordar que um único ato falho pode destruir a frágil estrutura de alguém, deixar cicatrizes profundas na alma. Então, talvez possamos pensar um pouco mais antes de agir, antes de optar por sentimentos negativos e mesquinhos.

Hannah cometeu suicídio. Ela deixou 07 fitas cassete contando os 13 motivos que contribuíram para sua decisão. Se tudo seguir como planejado, nem todos irão conhecer o conteúdo, apenas aquelas pessoas que de alguma forma contribuíram para aquele desfecho. Elas têm a missão de ouvir e passar adiante aquele macabro pacote, mas isso vai mudar radicalmente a sua maneira de ver a vida.

Hannah era uma garota romântica, simples e sensível. Ela queria ser ela mesma, mas não conseguia, se vendo cada vez mais acuada até o ponto em que sufocou. Percorreu um caminho de desesperança até desistir totalmente das pessoas e da vida. Chegou um momento em que ela não conseguia mais nem tentar se proteger, confiar ou pedir ajuda.

Acompanhamos sob a narrativa de Clay, um garoto que foi apaixonado por ela e não consegue entender porque recebeu aquele pacote, não consegue saber o que ela viu de errado em suas atitudes. Assim, o passado contado nas fitas por Hannah se mescla ao presente impacto vivido por Clay, criando uma dinâmica maior e proporcionando alguns acréscimos importantes em que a verdade de Hannah não soa vazia nem absoluta, causa efeitos reais e reflexões controversas.

Não é como se todo mundo tivesse feito algo escabroso, embora alguns realmente tenham feito. A sutileza está justamente nos detalhes, na maneira como um acontecimento aparentemente simples, elogioso ou corriqueiro adquire um novo contorno, contribui para um evento posterior e acaba culminando numa catástrofe. Tantos dos acontecimentos narrados fazem parte do cotidiano adolescente! Foi fascinante descobrir como aquelas “bobagens comuns” poderiam soar tão perversas sob determinado ângulo!

Certamente um drama para nos deixar tristes, chocados, nostálgicos. Serve de alerta para aqueles que estão pensando em suicídio buscarem uma forma mais efetiva de ajuda, bem como para aqueles que estão por perto poderem reconhecer os sinais a fim de melhor intervir.

SPOILERS!!!!

Uma das piores coisas desse livro é não poder torcer por um final feliz. Você sabe no que está se metendo, tenta se preparar para o rumo dos acontecimentos e, TALVEZ, somente por essa razão não acaba debulhado em lágrimas junto com Clay.

É lógico que as pessoas lidam de maneira diferente com as situações, por isso amei a simplicidade da coisa toda. É possível acompanhar o raciocínio, entender os sentimentos envolvidos e até compartilhar um pouco da frustração de Hannah. Cada acontecimento assinalado representou uma perda, embora ela não tenha feito nada para que isso acontecesse. Ela perdeu o respeito dos colegas, a segurança do lar, a privacidade dos próprios pensamentos, foi engolida por uma fama que cresceu sem controle e sem proveito, uma fama que a impediu de fazer as coisas que realmente desejava, especialmente de ter uma chance de viver o tipo de relacionamento que esperava. Sim, pois Clay não se aproximou antes por causa dos boatos.

Entendi a opção do autor em fazer de Clay um caso à parte, mas preferiria que ele tivesse sua parcela de contribuição também. Poderia ter sido involuntária, despercebida. Durante a narrativa ele afirma que gostaria de ter feito mais, que não se aproximou antes por conta da fama dela, do medo e timidez e isso poderia ter sido mais aproveitado. Não tiraria o valor do jovem, nem prejudicaria pelo fato de acompanhar seu ponto de vista, pois o mais importante seria a verdade contida nos sentimentos e intenções dele.

O autor trabalhou em cima de uma tentativa frustrada de suicídio e expressa bem o que vai pela mente de alguém que efetivamente atenta contra a própria vida. O motivo pode parecer banal para quem está de fora, mas sempre vai ser assim, porque no fim a minha dor nunca é a dor do outro, aquilo que me machuca pode ser inofensivo para outras pessoas e o acúmulo de minhas experiências é diverso das experiências vividas por outras pessoas.

Fiquei imaginando os outros recebendo a fita. O Sr Porter, por exemplo, um orientador educacional despreparado, incapaz de entender o grito de socorro e evitar o pior. Ele já parecia abalado com a morte, com a percepção individual do fracasso, como iria lidar com a verdade sobre seu papel e como poderia continuar exercendo a função sabendo que outros alunos estavam ciente do ocorrido?

Dentre todos Bryce pode ser o único a não se abalar com a experiência. Suas atitudes com as garotas já eram de domínio público e não lhe causavam qualquer constrangimento, nem faziam com que ele agisse de outra maneira. Suas ações foram as mais conscientes e ainda assim foram as piores. Todos os outros não tinham idéia do estrago que estariam causando (mesmo Jenny só entendeu as consequências depois do outro acidente), devendo passar por reações de constrangimento, impotência, raiva, reflexão e, creio eu na minha boa fé, uma transformação, um amadurecimento.

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