sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Delirium Trilogy – Delirium – Lauren Oliver


Sinopse: Antes dos cientistas acharem uma cura, as pessoas achavam que o amor era uma coisa boa, mas hoje todos entendem que a doença – delirium - só causava dor e destruição. Lana mal pode esperar completar 18 anos e passar pelo procedimento que vai lhe garantir uma vida segura e tranquila.

Qualificação: Ótimo!!

Resenha: Quem nunca sofreu por amor e desejou poder arrancar tudo de dentro do peito? Quem nunca viu uma família sendo destruída pelo surgimento de um alguém que “vira a cabeça” de quem parecia viver uma relação estável e feliz? Que filho não deseja a garantia de que seus pais viverão sempre juntos? Quantos pais não desejam ser fieis e constantes pelo bem de seus filhos? Mas... tire o amor e o que resta?

 “O amor é o fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer”
Monte Castelo – Legião Urbana

Só me lembrava dessa musica enquanto lia. A autora racionaliza ao extremo e traduz em termos perfeitamente aceitáveis a concepção de seu mundo distópico, totalmente funcional, esterilizado, planejado e seguro.

O amor dissecado em todas as suas facetas!! Essa é a proposta. O mais surpreendente é perceber como a descrição se aplica a cada situação te fazendo refletir e oscilar nos delírios desse sentimento.

O amor apresentado como uma doença. Certo dia um cientista surge com a cura para esse mal e não é difícil acreditar que pessoas corram sedentas, querendo estancar a dor, clarear a mente, seguir em frente após terem seus corações partidos, sua dedicação não correspondida, sua obsessão impedindo de comer, respirar, trabalhar, enfim, de viver plenamente. E logo o tempo vai passar, este grupo será maioria e ninguém mais vai tolerar pessoas insensatas e suas loucuras em nome do amor.

Tão contraditório, tão perturbador e assustador justamente por trazer irracionalidade e incitar atitudes impossíveis de explicar. Tudo isso soa ainda mais convincente do ponto de vista de alguém que cresceu sendo educado e atormentado por extremos realizados em nome do amor.

Fascinante a construção dos elementos que transformam o amor é algo temível. Como explicar o que significa amar sem parecer insano? Como convencer que uma dor pode ser algo tão sublime que você prefira senti-la a abrir mão dela? Poetas, músicos, escritores tentam todos os dias traduzir em algo compreensível, mas nada vai ser tão convincente quanto a experiência de amar.

Lena vive num mundo controlado, sendo discriminada e órfã por causa de seu passado sombrio, em que a doença esteve entre seus familiares. Tudo que deseja é se livrar do estigma e ter uma existência tranquila. Ela nem mesmo percebe o quanto precisa se esforçar para viver dentro do padrão, até que palavras começam a escapar de sua boca e um par de olhos atentos captura a essência escondida dentro dela.

SPOILERS!!!

Final hiper trágico, bombástico, inconformável... #BUM!!!!!

Terá Alex, a exemplo de Julieta, simulado a extensão de seu sacrifício apostando ter uma chance futura de viver plenamente seu amor? Creio que não, vejo nessa morte o sacrifício final daqueles que amam, mais uma das suas horrivelmente fascinantes facetas.

Será que Lena, privada de seu amor, vai desejar passar pelo procedimento na tentativa de arrancar a dor da perda?

Achei a trama sendo conduzida para uma proposta muito similar à da Série Feios e torci insanamente para que tivessem um rumo diferente. Pelo menos, o sentimento evocado foi muito diverso, enquanto numa eu queria que o procedimento acontecesse, na outra eu não  podia imaginar acontecendo. Foi muito bom ser contemplada com rumos distintos e novas perspectivas, ao invés de cair na redundância. No entanto, a que custo?

Eis que a mãe de Lena está potencialmente viva, livre e se transforma num objetivo novo a ser perseguido. Depois de ordenar seus sentimentos conflitantes sobre as lembranças agradáveis da mãe e seu verdadeiro significado, será que caminhamos para o trabalhar de um outro tipo de amor?

Mais do que descobrir o amor dentro de si mesma, Lena descortina todo lado cruel, dominador e sufocante do regime que vive e percebe quantas mentiras e absurdos o sustentam. Ela já não sabe o que é verdade ou mentira, mas entende que o sentimento que carrega dentro de si é capaz de guiá-la a novos caminhos e uma perspectiva de vida totalmente diferente pela qual a vale a pena até mesmo morrer.

Por fim, acho extremamente contundente a percepção de que a indiferença consegue ser pior do que o ódio, matando toda possibilidade de discernimento entre bem e mal, restando apenas a aplicação das regras instituídas sem flexibilidade, sem abertura para o novo. É como a morte da própria palavra humanidade.

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