Sinopse: Antes dos cientistas acharem uma cura, as pessoas achavam que
o amor era uma coisa boa, mas hoje todos entendem que a doença – delirium - só
causava dor e destruição. Lana mal pode esperar completar 18 anos e passar pelo
procedimento que vai lhe garantir uma vida segura e tranquila.
Qualificação: Ótimo!!
Resenha: Quem nunca sofreu por amor e desejou poder arrancar tudo
de dentro do peito? Quem nunca viu uma família sendo destruída pelo surgimento
de um alguém que “vira a cabeça” de quem parecia viver uma relação estável e
feliz? Que filho não deseja a garantia de que seus pais viverão sempre juntos?
Quantos pais não desejam ser fieis e constantes pelo bem de seus filhos? Mas...
tire o amor e o que resta?
“O amor
é o fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente; é dor que
desatina sem doer”
Monte Castelo – Legião Urbana
Só me lembrava
dessa musica enquanto lia. A autora racionaliza ao extremo e traduz em termos
perfeitamente aceitáveis a concepção de seu mundo distópico, totalmente
funcional, esterilizado, planejado e seguro.
O amor dissecado em todas as suas
facetas!! Essa é a proposta. O mais surpreendente é perceber como a descrição se
aplica a cada situação te fazendo refletir e oscilar nos delírios desse
sentimento.
O amor apresentado
como uma doença. Certo dia um cientista surge com a cura para esse mal e não é
difícil acreditar que pessoas corram sedentas, querendo estancar a dor, clarear
a mente, seguir em frente após terem seus corações partidos, sua dedicação não
correspondida, sua obsessão impedindo de comer, respirar, trabalhar, enfim, de viver
plenamente. E logo o tempo vai passar, este grupo será maioria e ninguém mais
vai tolerar pessoas insensatas e suas loucuras em nome do amor.
Tão
contraditório, tão perturbador e assustador justamente por trazer
irracionalidade e incitar atitudes impossíveis de explicar. Tudo isso soa ainda
mais convincente do ponto de vista de alguém que cresceu sendo educado e
atormentado por extremos realizados em nome do amor.
Fascinante a
construção dos elementos que transformam o amor é algo temível. Como explicar o
que significa amar sem parecer insano? Como convencer que uma dor pode ser algo
tão sublime que você prefira senti-la a abrir mão dela? Poetas, músicos,
escritores tentam todos os dias traduzir em algo compreensível, mas nada vai
ser tão convincente quanto a experiência de amar.
Lena vive num
mundo controlado, sendo discriminada e órfã por causa de seu passado sombrio, em
que a doença esteve entre seus familiares. Tudo que deseja é se livrar do
estigma e ter uma existência tranquila. Ela nem mesmo percebe o quanto precisa
se esforçar para viver dentro do padrão, até que palavras começam a escapar de
sua boca e um par de olhos atentos captura a essência escondida dentro dela.
SPOILERS!!!
Final hiper
trágico, bombástico, inconformável...
#BUM!!!!!
Terá Alex, a
exemplo de Julieta, simulado a extensão de seu sacrifício apostando ter uma
chance futura de viver plenamente seu amor? Creio que não, vejo nessa morte o
sacrifício final daqueles que amam, mais uma das suas horrivelmente fascinantes
facetas.
Será que Lena,
privada de seu amor, vai desejar passar pelo procedimento na tentativa de arrancar
a dor da perda?
Achei a trama
sendo conduzida para uma proposta muito similar à da Série Feios e torci
insanamente para que tivessem um rumo diferente. Pelo menos, o sentimento
evocado foi muito diverso, enquanto numa eu queria que o procedimento
acontecesse, na outra eu não podia
imaginar acontecendo. Foi muito bom ser contemplada com rumos distintos e novas
perspectivas, ao invés de cair na redundância. No entanto, a que custo?
Eis que a mãe
de Lena está potencialmente viva, livre e se transforma num objetivo novo a ser
perseguido. Depois de ordenar seus sentimentos conflitantes sobre as lembranças
agradáveis da mãe e seu verdadeiro significado, será que caminhamos para o
trabalhar de um outro tipo de amor?
Mais do que
descobrir o amor dentro de si mesma, Lena descortina todo lado cruel, dominador
e sufocante do regime que vive e percebe quantas mentiras e absurdos o
sustentam. Ela já não sabe o que é verdade ou mentira, mas entende que o
sentimento que carrega dentro de si é capaz de guiá-la a novos caminhos e uma
perspectiva de vida totalmente diferente pela qual a vale a pena até mesmo
morrer.
Por fim, acho
extremamente contundente a percepção de que a indiferença consegue ser pior do
que o ódio, matando toda possibilidade de discernimento entre bem e mal,
restando apenas a aplicação das regras instituídas sem flexibilidade, sem
abertura para o novo. É como a morte da própria palavra humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário