terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Crônica do Matador do Rei: Segundo Dia – O Temor do Sábio – Patrick Rothfuss


Sinopse: Segundo dia de narrativa e as coisas parecem começar a melhorar na Universidade para Kvothe. No entanto, a rivalidade com Ambrose chega a extremos difíceis de contornar e ele se vê forçado a embarcar numa inusitada aventura, a muitos quilômetros de distância, ganhando e perdendo muito mais do que poderia imaginar.

Qualificação: Excelente!!

Resenha: “Amamos aquilo que amamos, a razão não entra nisso”.

Ao entrar no segundo volume desta incrível saga, é fácil se sentir totalmente familiarizado com tudo. Tanto assim, que não há muito daquela cautela do iniciar, mas uma ansiedade de seguir em frente a toda velocidade. Quem chegou neste ponto certamente vai prosseguir na leitura e mergulhar neste universo sem hesitação e não precisa ser convencido de que valha a pena. Assim, esta resenha segue direto ao ponto, sem se preocupar em separar spoilers.

De volta ao Marco do Percurso!! Um novo dia nasce, trazendo as preocupações do presente e memórias do passado. Dentre os fatos mais interessantes ocorridos ali, destaco o presente encantado que Bast ofereceu ao Cronista. Quem está familiarizado com mitologia, sabe o quanto esses seres são ardilosos, astutos e famintos por favores e barganhas, então não foi um feito comum, típico deles, e me surpreendeu. Quem não está, já deve ter percebido algumas coisas inquietantes no personagem. Ele está fazendo de tudo para despertar o homem poderoso e impetuoso por trás do hospedeiro, mas já não tenho convicção sobre a pureza de suas intensões. Por precaução, anote aí a receita para barrar o domínio dos encantados e esteja preparado: ferro, fogo, vidro, olmeiro, freixo, faca de cobre.

Existe uma guerra em andamento e está muito claro que Kvothe teve um papel importante no caos em que o mundo está entranhado. Não acredito em acasos, toda construção do livro tem sido muito cuidadosa, portanto vejo esta guerra como o ápice da tragédia vivida por nosso ruivinho. Estou muito curiosa sobre esse ponto!

Kvote segue seus estudos fazendo conquistas interessantes. Aulas de Nomeação com Elodin e acesso ao Arquivo são parte disso e é claro que nada seria tão simples mesmo após essas conquistas. O Arquivo tem um charme próprio, com mistérios e tramas intrincadas, mas revela muito pouco sobre os assuntos que queremos conhecer. Ainda tenho a impressão de que Lorren esteja mais envolvido do que aparenta, talvez com os Amyr.

Falando em Amyr, os progressos em direção ao reconhecimento deles ainda é muito lento e frustrante. Primeiro temos em Auri uma fonte de informações que prefere permanecer longe do assunto, mais adiante, chegamos ao quase através do maer, mas vemos uma das chances mais promissoras escapar sem soltar uma frase!

A primeira etapa na Universidade foi mais extensa do que eu esperava. Imaginei que já havíamos avançado para um ponto em que a expulsão aconteceria e os grandes feitos pelo mundo a fora começariam a acontecer, por isso fiquei um pouco impaciente ao ver que tudo seguia num ritmo muito igual durante muito tempo. Também não aguentava mais aquela pobreza premente de Kvothe e fiquei muito aliviada por esse problema ter praticamente sido solucionado ao final.

De qualquer maneira, vejo um propósito claro em cada momento da narrativa. Todo aquele drama com as malfeitorias de Ambrose, por exemplo, serviram para Kvote aprender a fortalecer seu Alar e criar uma resistência mental tão potente que lhe permitiram sobreviver aos encantos de Feluriana e do próprio Cthaeh. Além de lhe motivar a construir o amuleto de proteção.

Outro exemplo da minúcia na construção são as inúmeras situações embaraçosas vividas pelo garoto virginal e que destoavam gritantemente da fama adquirida posteriormente. Descobrir o sexo através de Feluriana lhe transforma naquele amante lendário de forma incontestável.

No entanto algumas coisas começaram a se tornar exaustivas e frustrantes. A tensão pela expulsão da Universidade que nunca se concretiza já se tornou cansativa e desinteressante. A realidade por trás de alguns fatos é frustrante, por essa razão uma das minhas partes favoritas do volume foi justamente o encontro com Feluriana. Esta parte da história é aquela que mais aproxima a verdade do mito e conseguiu transmitir a sensação de um evento realmente único, fantástico e especial, digno de se tornar uma lenda.

O Chandriano tem sido alvo de avanços significativos. Quando a garotinha do amuleto aparece na Universidade, minha mente não demorou a fazer conexão com aquela que viríamos a lembrar chamar Nina. Fiquei curiosa sobre a presença dela, mas o encontro se revelou bem mais proveitoso do que eu ousaria esperar! Ela lembrou detalhes esclarecedores e teve o cuidado de representar num pergaminho valioso!! Senti uma excitação enorme com as novidades!!

Obrigado a dar uma pausa nos estudos, Kvothe bota o pé na estrada e o livro ganha um salto ainda maior de qualidade. No primeiro instante, depois de se ver em apuros, ele consegue se superar em interpretações e artimanhas jogando o jogo de sutilezas e falsidade da nobreza. Se instala no circulo de confiança do maer, mas vê seus esforços quase irem abaixo e finalmente compreende a dimensão do poder de um monarca, especialmente no que concerne à facilidade ao dispor sobre uma vida. Esse trecho é carregado de tensão, fiquei nervosa, me senti em crise. Sem contar que era de ficar apreensivo com todas reviravoltas, guardas, envenenamentos, desconfianças, acusações e fofocas!!

Adiante temos outro dos melhores momentos do livro: os admrianos. A presença de Tempi me deixou logo alerta para um caminho especial partindo daí e não deu outra!! O melhor de tudo foi perceber que todo o aprendizado vindo de Tempi representava muito pouco e todo desafio de justificar o aprendizado e ser aceito pelo povo, entendendo seus costumes até se tornar parte deles foi muito bom! Essa aventura, além de ser excelente por si só, foi responsável por uma base importante dos conhecimentos de Kvothe, lhe dando domínio na luta, facilitando o trabalho com a mente adormecida através da técnica da folha em rodopio e acrescentando ricos detalhes à história do Chandriano. Ele ganhou um nome também!


Invocar um raio, matar mais de vinte bandidos, escapar de Feluriana, possuir uma capa encantada, convocar o vento, salvar mocinhas em perigo, pode não ser tudo conforme se ouve por aí, mas a lenda já ultrapassa a estatura do homem e se torna um elemento perigoso e indomável.

Acredito que Ambrose (ou seu pai) seja o rei que acabará sendo morto por Kvothe, afinal, tem sido evidenciado o fato dele estar convenientemente na linha de sucessão, cada vez mais próximo, e o acontecimento justificaria a proporção crescente da rivalidade de ambos. O que começou como uma antipatia na entrada do Arquivo tem crescido exponencialmente, juntamente com o poder crescente de cada um deles. Um grande confronto final à vista.

Evidentemente, Denna tem grande relevância no contexto geral e parece ter alguma influência no estado atual de Kvothe. Arriscaria dizer que ele foi capaz de fazer um pacto por ela, ou que a feriu de tal maneira que se viu incapaz de continuar a usar seus poderes, algo parecido com o período em que perdeu os pais e a mente se fechou para protegê-lo da dor.

Os momentos de interlúdio me fizeram questionar: onde andarão Simmon, Feila, Will e tantos outros? Tenho um palpite de que Will possa ter sido atraído pelo lado dos encantados, foi estranho ver que ele acredita e se interessa no assunto.

Por fim, qual o temor do sábio? Muitas foram as respostas: o mar na tormenta, a noite sem luar, a ira do homem gentil. Todas elas tiveram seu momento e foram superadas com dificuldades ao longo do volume. O mar na tormenta privou Kvothe de quase todos seus pertences, por pouco não lhe tirou a vida e ainda dificultou sua jornada de acesso ao maer. Segundo Feluriana, a noite sem luar deve ser temida pelos homens porque eles se sentirão atraídos pelo mundo dos encantados, o que provavelmente será seu fim. A ira do homem gentil pode significar um castigo muito mais severo e inegociável, o maer e o Lorren foram exemplos bem contundentes. Será que o personagem conseguiu atingir algum grau de sabedoria com a superação ou decaiu para uma arrogância vaidosa?


PS: Alguma dúvida de que a Lady Lockless deve ser tia do Kvothe?

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