Sinopse: No mundo de Deuce, as pessoas só ganham o direito de ter um
nome se sobreviverem aos primeiros 15 anos. Ela vive no subterrâneo, num
Enclave, e sempre quis ser uma Caçadora, para alimentar o grupo e protegê-lo
das Aberrações. Junto com Fade, ela logo descobre que nem tudo é aquilo que
aparenta, mas quando o desastre parece iminente, não importa o quanto tente,
Deuce não pode deter a maré negra que a leva para longe do único mundo que ela
já conheceu.
Qualificação: Excelente!!
Resenha: Consumi em doses cavalares e
agora sofro abstinência por não ter a continuação em mãos.
É difícil
tentar transmitir o horror da coisa toda. É uma daquelas distopias brutais,
bastante violentas, em que o ser humano se agarra a instintos animais e regras
rudimentares para sobreviver num ambiente hostil. Aquilo que funciona é
valorizado e não existe espaço para questionamentos e flexibilidade. Os traços
de compaixão e bondade denotam fraqueza e são motivo de vergonha.
O Enclave é a
vida de Deuce, tudo que ela conhece, tudo pelo que luta e acredita. Ao ser
designada como parceira de Fade, o cara misterioso vindo de fora, ela se depara
com fatos que contradizem sua boa fé de forma alarmante.
Zumbis, ou “Aberrações” estão por toda parte com o único objetivo de comer toda carne que puderem conseguir. O Enclave está em algum trecho dos antigos túneis de metrô, quase totalmente imerso na escuridão e a luz do sol é uma lenda distante da qual poucos ouviram falar. A expectativa de vida gira em torno de 25 anos e alcançar essa marca faz da pessoa um ancião digno de ser ouvido.
Zumbis, ou “Aberrações” estão por toda parte com o único objetivo de comer toda carne que puderem conseguir. O Enclave está em algum trecho dos antigos túneis de metrô, quase totalmente imerso na escuridão e a luz do sol é uma lenda distante da qual poucos ouviram falar. A expectativa de vida gira em torno de 25 anos e alcançar essa marca faz da pessoa um ancião digno de ser ouvido.
Uma das coisas
que mais gostei foi a percepção que Deuce tem sobre as coisas aliado a um
senso prático. Quando descobre algo novo, ela traça um conceito mental que lhe
permite enxergar com clareza o contexto, as pessoas e o sentido por trás de
tudo. Assim, mesmo quando seu coração fica apertado, sua mente é capaz de
compreender as motivações e agir de acordo com a necessidade da situação. Essa é
a principal característica de sua força.
A inteligência
e lógica de raciocínio propiciam a Deuce um senso crítico, ainda que bastante
tolhido, que tende a crescer e inflamar se bem alimentado. Num mundo de regras
duras e inflexíveis, pensar pode trazer sérios problemas, mas não fazê-lo pode
levar à morte, assim, precisamos estar preparados para vivenciar duras
escolhas. E se esse mundo muitas vezes é cruel e injusto, não demora a
percebermos que a falta total de regras pode torná-lo ainda pior.
Existem muitos
mistérios sobre o passado, a vida fora do Enclave, as aberrações, mas a
princípio tudo isso é secundário. Ficamos nos perguntando que tipo de coisa
deixou o mundo daquela maneira, mas no início a ambientação é tão própria, rica
e necessária, que as dúvidas não são importantes, mais vale a superação de cada
etapa, cada obstáculo. Aos poucos recebemos respostas e formulamos mais
perguntas, até que a busca pela verdade começa a dar um certo propósito à saga.
SPOILERS!!!
Corra até suas
pernas sangrarem e não olhe para trás!
Acabou, como assim? Sinto que a jornada ainda não encontrou seu destino final, embora dê uma leve impressão de que sim. Existe a possibilidade de que agora eles tentem voltar, mas parece altamente improvável, toda narrativa é direcionada para frente, sem hesitação, sem discussão, sem reservas e arrependimentos. Todos parecem sempre dispostos a deixar a maior distância possível entre o passado e o presente. É tudo muito forte e intenso. Imagino como eles conseguem seguir deixando tudo e todos para trás, certos de que já não há como voltar ou salvar ninguém. A esperança de encontrar algo melhor é a única coisa que os mantém lutando.
Quanto mais
exploram e conhecem aquela New York devastada, mais se dão conta da enormidade
do problema. Aberrações cada vez em maior número e grau de inteligência seguem
representando um risco, uma praga, uma infestação descontrolada e terrível.
Deuce evita pensar nesses seres famintos,em sua origem
humana, talvez o resultado desastroso de uma vacina bem intencionada. Enfrentar
a ameaça no escuro dos subterrâneos facilitava o tratamento frio e distanciado
e apenas um firme treinamento permite que eles continuem matando, mas a cada
momento parece mais difícil deixar de questionar ou tentar entender a
existência de tais criaturas.
Chocante a
situação das gangues de New York, especialmente levando em conta a faixa etária
dos participantes. Nos túneis tudo parecia terrível, mas na cidade o caos é
muito maior e a lei da selva não encontra limites, vale a força e domínio do mais
forte, territórios são demarcados com sinais, mulheres só servem para
reprodução independente de vontade ou preparo. A captura de presas é motivo de
exibição e reafirmação. Poderia estar falando de animais que não faria
diferença, alguns animais até pareceriam mais civilizados.
No começo
somos praticamente convencidos de que é impossível sobreviver sem estar pronto
a colocar o senso prático de sobrevivência em primeiro lugar. A execução do
garoto cego é o gatilho que desperta em Deuce a dúvida sobre a necessidade de
determinados procedimentos, mas existem muitas coisas em jogo na ocasião e
pouca convicção sobre a atitude correta a tomar.
Ao longo da
jornada seus olhos se abrem e, da mesma maneira que o sol é capaz de feri-los,
a sua verdade machuca a cada perda. Ao final, ela está cansada de desistir
daqueles que gosta e não tem muito a perder por seguir aquilo que considera
correto. Todo o processo que leva a este ponto é muito bem construído, afinal
ela cresceu admirando e perseguindo um estilo de vida que lhe tornava aquela
pessoa, que sempre enxergava tudo em função das chances de sobrevivência.
Enquanto a
capacidade de se importar aproxima Deuce de Fade, o senso prático é a única
coisa que lhe permite aceitar a mudança da maré com simplicidade e acolher Stalker
como novo membro do grupo. Ela observa que Stalker é como ela sempre trabalhou
para ser, vê nele alguém que ela poderia ter se tornado, por isso entende as
atitudes dele. No entanto, é Fade quem desperta e compreende nela o lado
sensível e humano tão profundo e seu que nenhum treinamento foi capaz de
suprimir. No final, ao olhar para eles, ela tem a sensação de que se completam,
e, num mundo regido pelos fortes, ela surge como uma “pombinha”, forte e
frágil, surpreendente e apaixonante, despreparada para lidar com o interesse de
seus companheiros.
Amei a forma como a situação de Fade foi construída. Partimos do pensamento de que ele era alguém fechado, isolado e estranho para acabar descobrindo que ele nunca havia se integrado porque nem mesmo podia compartilhar seus conhecimentos, porque se tornou um prisioneiro, um caçador por falta de opção. O mesmo pensamento que transformou Fade em membro do Enclave foi aplicado quando Stalker se junta ao grupo.
Amei a forma como a situação de Fade foi construída. Partimos do pensamento de que ele era alguém fechado, isolado e estranho para acabar descobrindo que ele nunca havia se integrado porque nem mesmo podia compartilhar seus conhecimentos, porque se tornou um prisioneiro, um caçador por falta de opção. O mesmo pensamento que transformou Fade em membro do Enclave foi aplicado quando Stalker se junta ao grupo.
A única
ressalva que tive com a leitura foi a discrepância aparente no transcorrer do
tempo. O mesmo mundo em que livros desintegram ao serem tocados, comidas
enlatadas servem para consumo? Em certos momentos temos a impressão de que se
passou um tempo enorme, uma era, noutros não parece possível cogitar a passagem
de mais que três décadas. Ainda não consegui estabelecer uma noção de tempo
para a trama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário