terça-feira, 9 de julho de 2013

Série Across The Universe 01 – Através do Universo – Beth Revis

Sinopse: Amy decide acompanhar seus pais na grande viagem ao novo mundo, a trezentos anos de distância. Eles viajarão em Godspeed, uma imensa nave, e permanecerão congelados durante todo percurso. No entanto, alguma coisa aconteceu e apenas ela despertou, cerca de 50 anos mais cedo. A nave tem poucos tripulantes e muitas regras estranhas, mas quando outros corpos congelados aparecem mortos, tudo que Amy pode pensar é em defender as vidas de seus pais e encontrar o assassino.

Qualificação: Bom.

Resenha: É fácil e tranquilo de ler e gostar. Constrói toda uma nova cultura e apresenta aquilo a que se propõe. No entanto, tem alguns pontos bem inverossímeis e atitudes difíceis de aceitar que me incomodaram um pouco (talvez um muito).

Não é porque é ficção científica que tenho de aceitar todas as propostas sem uma lógica convincente. Incrível é quando a coisa mais absurda vem cercada de elementos que lhe dão veracidade. Fringe foi uma série capaz de fazer isso e maravilhar seus fãs. Posso viajar no tempo e espaço com o Doctor sem qualquer dificuldade e até fazer algumas concessões porque existe uma lógica, uma perfeita racionalização daquilo que está sendo servido. Então sim, fiquei incomodada com algumas questões e isso acabou me distraindo um pouco das demais coisas.

Amy é uma tripulante destinada a viver no novo mundo. Ela decidiu seguir viagem para permanecer junto a seus pais, portanto é um choque despertar sozinha, presa dentro da nave e sem quase nenhuma perspectiva de chegar a vê-los no futuro. Para completar, ela é diferente dos tripulantes em todos os sentidos num lugar em que diferenças não são bem vindas.

O livro trabalha com fatores internos da nave. Além das pessoas congeladas, existe uma tripulação que mantém as coisas funcionando, que pesquisa e desenvolve novas tecnologias potencialmente úteis. Aqui traçamos o perfil desta sociedade, muitas gerações além da tripulação inicial, e seu estilo de vida utópico de perfeita paz, saúde e igualdade.

Quase no topo da hierarquia está Elder, um jovem destinado a ser o próximo líder, mas que não se sente preparado para assumir a função. Apesar do que lhe foi ensinado, ele aprecia diferenças e para cumprir seu propósito, resolve estudar sobre os assuntos que Eldest deveria estar lhe passado. Assim, aos poucos, descobre os sombrios segredos que mantém a nave dentro do curso, inclusive a presença da tripulação congelada e da jovem de cabelos em fascinantes tons de vermelho como um distante pôr do sol.

SPOILERS!!!!

Sempre desconfiei que Elder houvesse descongelado Amy e, apesar dele tentar esconder de todas as formas, foi muito bom ver que a verdade finalmente partiu dele mesmo. Eles formam um belo casal e esta nave promete muitos desafios daqui para a frente.

Quando começam a descongelar o povo, minha primeira impressão era de que havia algum problema com a nave e eles estavam sendo mesmo descartados. Imaginei que o tal planeta não existisse ou que a nave não conseguiria chegar de maneira alguma, embora ainda não seja este o caso. No entanto, o enfoque logo mudou para Órion, não foi difícil perceber que ele era o aprendiz anterior e estava interferindo na visão de Elder sobre seu papel.

Pense em ficar trancafiado, congelado numa caixa com consciência disso durante mais de 500 anos, como a Amy. Primeiro, seria totalmente inviável, pois se ela era capaz de pensar, seu cérebro estava funcionando, apresentando impulsos nervosos, portanto não totalmente congelado, diferente do coração que parou de bater. Como tal, sofreria uma deterioração normal, não passando de cerca de uns 100 anos. E em segundo, a pessoa certamente ficaria insana, totalmente desnorteada quando voltasse à realidade, ainda desconfiada e arredia à possibilidade de que o despertar finalmente ocorrera. A auto-consciência de Amy durante o congelamento nem mesmo é imprescindível. Apresenta alguns trechos na vida que poderiam ser encaixados em outros momentos da narrativa sem problemas.  

Me senti tão claustrofóbica quanto Amy. Uma coisa é escolher viver dentro de uma nave ou nascer e crescer conhecendo apenas aquela realidade, outra bem diferente é despertar inesperadamente dentro dela sem perspectiva alguma de sair algum dia. Tenho um problema de evitar sinopses antes de ler e acabo criando expectativas diversas que nem sempre se aproximam daquilo que o livro se propõe a fazer e isso aconteceu aqui. Esperava que as aventuras envolvessem fatores externos – aliens, planetas, cometas – mas, como a saga está apenas começando, não perdi totalmente essa expectativa.

Por outro lado, a parte referente à sociedade ditatorial foi muito bem desenvolvida. O Líder podia até ser insano, mas todas as suas ações tinham propósito, ele se via em condições extremas e havia adotado medidas igualmente extremas. Nem todo o esquema era de seu agrado, vide as bebedeiras, mas ele acreditava naquilo que estava fazendo como elemento fundamental à sobrevivência do grupo. Tudo era planejado, do nascimento à morte, da maneira como uma fábrica poderia funcionar.

Fiquei logo com a sensação de que minhas contas é que não estavam batendo muito bem. Se a viagem já estava no alto dos 550 anos, mas a população acreditava estar em 250, a mentira sobre o atraso na viagem já vinha sendo contada há 300 anos. Cada geração, à época da reprodução, contava com 20 anos quando recebia a notícia sobre o atraso no cronograma, portanto, o novo comunicado aconteceria aos 40 anos, de maneira que esta geração lembraria e passaria pelo processo de “reciclagem”. Não consegui ver muito bem uma mulher como Steela com apenas essa idade, como parece ser o caso, mas vou levar em consideração que diante de uma população bem mais jovem e sem muitos precedentes de idosos, isso pode ser possível. Além disso, ao acrescentar anos por tanto tempo, a estimativa estaria muito acima de 325, afinal, toda aquela geração contava o tempo que faltava e acrescentava alguma coisa na época do comunicado, então como se poderia retroceder? Então, para explicar, me apeguei ao fato de que eles se mantinham contando aquilo que faltava para chegar e possivelmente perdiam a perspectiva dos anos aumentados. Não é uma justificativa muito convincente, mas aceitável num contexto de confusão mental provocado pelo Phydus.

Amy e Elder são bastante jovens e inexperientes, mas algumas de suas atitudes são extremamente infantis. Uma garota de dezessete anos é capaz, por exemplo, de compreender as razões para não sair sozinha durante o período da “temporada”, ainda mais depois de quase ser atacada e já ter presenciado a forma como as pessoas se comportavam em público, como animais. Nada justifica o ataque que sofreu, mas é estranho que ela não tente entender melhor aquela civilização antes de interferir mesmo depois de sofrer ameaças.


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