sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Just Listen – Sarah Dessen


Sinopse: A garota perfeita dos comerciais acaba de perder a melhor amiga e começa o ano letivo ignorada por todos. A verdade sobre aquela noite é um segredo que Annabel não conta a ninguém, especialmente à frágil família, na qual cada membro vive seu inferno particular. Nesse contexto surge Owen, alguém surpreendente que tem uma importante lição a ensinar: “Não pense, nem julgue. Apenas ouça.

Qualificação: Excelente!

Resenha: Fascinante!!! O que acontece quando você consegue ouvir a todos menos a si mesmo? Ou se você fala tanto que já nem prestam a devida atenção? É possível viver plenamente evitando conflitos?

Um livro sobre o verdadeiro impacto da comunicação na vida das pessoas. Minha mente ficou em polvorosa, tentado absorver cada pequena mensagem para poder digerir e transformar em atitudes construtivas. Me identifiquei bastante com algumas situações e já estou maquinando meu próprio guia de gerenciamento para atitudes que preciso “reformular e reconsiderar”.

A vida de Annabel está uma bagunça, ela está absurdamente infeliz e tudo que faz é se resignar porque não consegue enfrentar conflitos. Costumo dizer que todo excesso é prejudicial e até hoje ainda não encontrei nenhuma exceção a essa pequena regra. Por mais que uma coisa seja perseguida e desejada, seu excesso inevitavelmente causará efeitos negativos e indesejados.

Os conflitos não precisam ser provocados por nós, mas invariavelmente estamos no meio de uma situação em que precisamos nos posicionar, porque não fazê-lo pode causar transtornos ainda maiores. Entendo todo o desejo de fuga, a dificuldade em confrontar e, principalmente, a necessidade de florear a verdade para apaziguar os ânimos. Acredito, no entanto, que o maior problema que ela enfrenta é a negação dos problemas, que faz a si mesma diante de tudo que não deseja enfrentar.

Eis que no alto da casa de vidro é possível ver a imagem de uma família perfeita. Tão impressionante que as pessoas diminuem o ritmo ao passar por ela apenas para admirar aquela cena e desejar em seus corações fazer parte de algo tão especial.

Naquela casa de vidro vive Annabel, a filha mais nova entre 3 lindas jovens. O que parece um sonho, visto de perto demonstra ser um verdadeiro pesadelo. Vejo Annabel naquela casa, vendo todos os problemas ao seu redor como uma expectadora paralisada de medo, se recusando a admitir para si mesma que faz parte daquele caos, negando a verdade de sua própria imperfeição. Assim, ela se mantém calada, como se o fato de não falar pudesse fazer com que as coisas ruins não estivessem acontecendo.

Comovente, bem escrito, contado de maneira simples e eficiente. Nos leva a refletir sobre tudo que dizemos, que ouvimos, bem como quanto, como e o que devemos fazer com estes sentidos preciosos.

SPOILERS!!!

“Eu poderia fingir deixar o passado para trás, 
mas o passado não iria me deixar”.

Quando estudamos o passado temos dois grandes objetivos: aprender com os erros e evoluir com os acertos. Por essa razão, é inerente ao ser humano a necessidade de avaliar criticamente suas experiências antes de poder seguir em frente.

Com uma família cheia de extremos, Annabel procura ser um ponto equilíbrio. Não fala demais a ponto de atrapalhar, nem fica calada diante das coisas, mas mente sempre que acredita que a verdade vai ferir ou magoar.  Tudo que ela deseja é evitar conflitos e nesse caminho vai ignorando qualquer poder que possua para solucionar seus próprios problemas e acaba voltando a cometer os mesmos erros.

Owen é um personagem singular. Tudo a respeito dele é intrigante e ele contribui bastante com suas discussões sobre música, sinceridade e (claro!) gerenciamento da raiva. Não estava familiarizada com esse tipo de tratamento, mas achei bastante educativo. Não sei se conseguirei ver um “interessante” ou “coisa” da mesma maneira que antes.

No entanto, somente quando Emily assume uma postura oposta à sua é que Annabel se dá conta de uma porção de coisas: não era tarde para falar a verdade, o apoio das pessoas dependia da sua postura diante dos fatos, não havia motivos para se envergonhar e ela poderia ter evitado que outras garotas vivessem o mesmo problema.

Sensacional a mudança de perspectiva entre Kristen e Whitney sobre o dia que Whitney quebra o braço. Quando Annabel assiste o vídeo, já conseguimos entender o significado daquilo na relação entre as irmãs e depois com o discurso de Whitney um belo quadro se completa e elas finalmente conseguem entender aquilo que se passava entre ambas e acabou por afastá-las. Enquanto a mais velha ficava sufocada por ter a outra sempre por perto e a via como estraga-prazer, a menor a seguia por falta de opção, desejando ter um caminho próprio a seguir.

Kristen falava demais. Tanto que seu discurso se perdia, ou parecia exagerado e as pessoas já não paravam para escutar o que ela tinha a dizer. Vivendo assim, reduziu as oportunidades de diálogo com sua irmã, e não foi levada suficientemente a sério quando apontou a gravidade para o problema que Whitney estava passando. Ela preenchia todo silêncio na família com seus comentários, desviando os demais da perspectiva de falar ou pensar em seus próprios problemas. Quando se afasta do convívio familiar, ela percebe e procura corrigir essa compulsão, passando a falar o necessário e aprendendo a ouvir os outros. Sua família também sente a diferença e os espaços vazios começam a ser preenchidos pelos demais.

Whitney guardava tudo trancado dentro de si mesma e a anorexia foi a maneira que seu corpo encontrou de dar vazão a todo stress e insatisfação mal contidos dentro dela. Muita gente acaba apresentando sintomas físicos quando a torrente de sentimentos aprisionados começa a ser insuportável.

Ter uma pessoa depressiva em casa é muito desestabilizador, especialmente quando essa pessoa é muito amada e dava suporte aos outros membros. É natural que todos façam tudo que está ao seu alcance para protegê-la e evitem trazer aborrecimentos. É difícil decidir o que compartilhar com ela, mesmo sabendo que nem tudo pode ser escondido, omitido, separado. Às vezes elas se mostram mais fortes do que acreditamos, mas nunca deixamos de sentir pavor diante da possibilidade de derrubá-la de vez.


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