sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Disparates Literários 02

Essa capa é de livro ou de filme?

Maldito marketing que tende a nivelar a arte, desconsiderando suas diferenças! É tão difícil assim entender que livros e DVDs coexistem pacificamente dividindo atenção e multiplicando dividendos sem precisar ter a mesma aparência de remédio genérico?

Mídias diferentes, sensações diferentes. Sem essa de qual delas é melhor, não julgo mérito aqui, aprecio ambas sem qualquer moderação, mas em grandes doses, e sei que cada uma delas tem o seu papel. Quando vejo um pôster de filme crio uma expectativa visual e auditiva sobre cores e formas, fotografia e interpretação, edição e som. A proposta já está pronta e é servida em porção rápida e frenética. Alguém fez uma interpretação sobre a obra e serviu aquilo que considerou importante e viável dentro de seu orçamento. Não foi à toa que Cameron levou dez anos planejando como transformar a idéia no filme "Avatar", ou que Martin decidiu se dedicar a escrever depois de ficar frustrado com as limitações impostas aos seus roteiros sobre o número de personagens, cenários, efeitos entre outras.

Quando olho para a capa de um livro a área da imaginação fica em alerta, se preparando para produzir os mais fantásticos elementos, muitos deles além de qualquer reprodução cinematográfica, de qualquer orçamento. A imagem do filme revela a obra sob uma visão bastante restrita e explícita, enquanto a do livro esconde e sugere deixando o restante para o leitor. Perceba se isso não acontece ao comparar as capas de “Coração de Tinta”.

Agora compare as de “Um Homem de Sorte” e me diga se você será capaz de ler sem evocar a imagem de Zac Efron (não que, neste caso, isso seja realmente um problema...). Você olha para elas e percebe que se tratam de coisas distintas e, apesar de ser a mesma história, olha só: são coisas distintas!


Pode ser que a capa de um filme ajude o livro a vender mais (particularmente tenho minhas dúvidas), mas convenhamos que para leitores mais dedicados é uma grande decepção pegar um livro com uma imagem de filme estampada nele. Quem procura um livro em função do filme já tomou a sua decisão e não precisa disso. Ele veio disposto a acrescentar elementos na sua construção obtida pela película, pois ele já formou um conceito sobre aquilo que vai encontrar. Por esta razão, sustento que a capa de um livro deve ser mantida em função dos leitores que vem até ela em busca de um universo lúdico desconhecido, que não precisa ser associado a outras produções. Nada impede que haja alguma referência a adaptações numa pequena chamada ou na contra-capa, lógico!

Gente, isso é quase um crime! Podar meu universo criativo com alguma representação preestabelecida. Não consigo acreditar que os leitores prefiram essas capas banalizantes ao invés de uma capa adequadamente concebida. Tem livros que chegam ao país apenas por sua repercussão no cinema e suas capas são tão pobres que nem dá vontade de ler!! Fica aquela sensação de que o livro não tem mais nada a acrescentar, é somente mais do mesmo e não vale a pena se dedicar a ler se você já assistiu ao filme. Raramente consigo pegar um desses livros para ler, mesmo sabendo que provavelmente haja mais a conhecer.

Outra coisa a ser considerada é que os filmes e séries são adaptações e muitas vezes nem mesmo correspondem às verdades contidas nos textos, como em “O Iluminado” de Stephen King. O filme de Kubrick é excelente, mas segue um caminho bastante diferente do livro, que é muito melhor representado numa minissérie produzida anos depois.


Na série "The Vampire Diaries" o tipo físico dos personagens é diferente daqueles encontrados nos livros, sendo até inviável tomar as imagens de uma coisa pela outra e como neste, existem vários casos similares, em que características físicas dos personagens são diferentes de maneira que a capa não se adapta às duas obras. Sem contar que a imagem de um ator pode provocar a reação oposta à pretendida, afastando o leitor. Sinto isso quando olho para a capa de Mulher de Preto com o Daniel estampado nela. Não gostei muito do filme e achei a interpretação dele particularmente fraca, mas até simpatizo com as capas concebidas para o livro em sua língua original. Compare e reflita sobre qual livro gostaria de ter na sua estante!  

Diria o mesmo sobre “Água para Elefantes”, sob cuja beleza Robert esconde uma falta de carisma impressionante. Reconheço até que a arte da capa está muito bonita, mas a associação acaba sendo ruim por evocar um personagem que não conseguiu me comover da maneira que deveria.

De mais a mais, os filmes são obras menos duradouras e sujeitas a mudanças de moda, tendências, popularidade às quais um livro não precisa se submeter.


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