Maldito
marketing que tende a nivelar a arte, desconsiderando suas diferenças! É tão
difícil assim entender que livros e DVDs coexistem pacificamente dividindo
atenção e multiplicando dividendos sem precisar ter a mesma aparência de remédio
genérico?
Mídias diferentes, sensações diferentes. Sem essa de qual delas é melhor, não julgo mérito aqui, aprecio ambas sem qualquer moderação, mas em grandes doses, e sei que cada uma delas tem o seu papel. Quando vejo um pôster de filme crio uma expectativa visual e auditiva sobre cores e formas, fotografia e interpretação, edição e som. A proposta já está pronta e é servida em porção rápida e frenética. Alguém fez uma interpretação sobre a obra e serviu aquilo que considerou importante e viável dentro de seu orçamento. Não foi à toa que Cameron levou dez anos planejando como transformar a idéia no filme "Avatar", ou que Martin decidiu se dedicar a escrever depois de ficar frustrado com as limitações impostas aos seus roteiros sobre o número de personagens, cenários, efeitos entre outras.
Quando
olho para a capa de um livro a área da imaginação fica em alerta, se preparando
para produzir os mais fantásticos elementos, muitos deles além de qualquer
reprodução cinematográfica, de qualquer orçamento. A imagem do filme revela a
obra sob uma visão bastante restrita e explícita, enquanto a do livro esconde e
sugere deixando o restante para o leitor. Perceba se isso não acontece ao
comparar as capas de “Coração de Tinta”.
Agora compare as de “Um Homem de Sorte” e me diga se você será capaz de ler sem evocar a imagem de Zac Efron (não que, neste caso, isso seja realmente um problema...). Você olha para elas e percebe que se tratam de coisas distintas e,
apesar de ser a mesma história, olha só: são coisas distintas!
Pode
ser que a capa de um filme ajude o livro a vender mais (particularmente tenho
minhas dúvidas), mas convenhamos que para leitores mais dedicados é uma grande
decepção pegar um livro com uma imagem de filme estampada nele. Quem procura um
livro em função do filme já tomou a sua decisão e não precisa disso. Ele veio
disposto a acrescentar elementos na sua construção obtida pela película, pois
ele já formou um conceito sobre aquilo que vai encontrar. Por esta razão,
sustento que a capa de um livro deve ser mantida em função dos leitores que vem
até ela em busca de um universo lúdico desconhecido, que não precisa ser
associado a outras produções. Nada impede que haja alguma referência a
adaptações numa pequena chamada ou na contra-capa, lógico!
Gente,
isso é quase um crime! Podar meu universo criativo com alguma representação
preestabelecida. Não consigo acreditar que os leitores prefiram essas capas
banalizantes ao invés de uma capa adequadamente concebida. Tem livros que
chegam ao país apenas por sua repercussão no cinema e suas capas são tão pobres
que nem dá vontade de ler!! Fica aquela sensação de que o livro não tem mais
nada a acrescentar, é somente mais do mesmo e não vale a pena se dedicar a ler
se você já assistiu ao filme. Raramente consigo pegar um desses livros para
ler, mesmo sabendo que provavelmente haja mais a conhecer.
Outra
coisa a ser considerada é que os filmes e séries são adaptações e muitas vezes
nem mesmo correspondem às verdades contidas nos textos, como em “O Iluminado”
de Stephen King. O filme de Kubrick é excelente, mas segue um caminho bastante
diferente do livro, que é muito melhor representado numa minissérie produzida
anos depois.
Diria o mesmo sobre “Água para Elefantes”, sob cuja beleza
Robert esconde uma falta de carisma impressionante. Reconheço até que a arte da capa está muito bonita, mas a associação acaba sendo ruim por evocar um personagem que não conseguiu me comover da maneira que deveria.
De mais a mais, os filmes são obras menos duradouras e
sujeitas a mudanças de moda, tendências, popularidade às quais um livro não
precisa se submeter.
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