Tem horas em
que tudo que desejo é poder ler um livro com final. Não me leve a mal, já aderi
à proposta dos seriados, pois encontrei muitas obras que tem valido a pena, mas
a essa altura já perdi a conta de quantas sequencias estou aguardando. Acaba virando
uma imensa confusão manter tudo inacabado na mente – até preciso organizar todas
que estão em aberto para não deixar passar alguma!
Prefiro ler
séries já encerradas. Pegar tudo de imediato, concluir a história e seguir
adiante, mesmo que isso exija uma maratona. Embora o engraçado seja a sensação
de perda que vem junto com a satisfação da conclusão, afinal são horas e horas
dedicadas àquele universo tão especial, que já conhecemos, nos identificamos e
não estamos dispostos a largar (mas precisamos, que fique claro!).
Quando paro
para aguardar uma sequencia, vivo uma montanha russa de emoções - quase como
aquelas fases do luto, sabe? Começo por me negar a aceitar o óbvio: vou ter que
esperar. Fico enlouquecida atrás de notícias, na esperança de encontrar o livro
pronto em algum lugar perdido, só esperando por mim. Achei muita graça quando
assisti “O Diabo Veste Prada” e a pobre assistente teve que conseguir o
manuscrito da continuação de Harry Potter para as filhinhas da chefona. Eu NE-CES-SI-TO de alguém assim!! Essa espera lancinante
não respeita classes sociais, cor, credo, sexo, antes nos nivela ao limbo da
expectativa. Bem, e quanto mais procuro sem achar, mais começo a resmungar e
ficar revoltada.
Se o livro
ainda não foi escrito, a coisa fica feia. Alguns escritores conseguiram
angariar uma multidão de fieis que chegam a orar para que o dito cujo não morra
antes de completar a obra. Li muitos comentários desse tipo a respeito do
George R R Martin e até entendo o desespero, pois também desejo muito poder conferir
as crônicas completas, mas procuro abstrair e acreditar que o que existe já fez
valer à pena.
Que tal um
hiato entre volumes de uns 20 anos? Chocado? Eu fiquei absolutamente passada
quando, por uma total questão de sorte, peguei a coleção “A Torre Negra” no
oportuno momento que Stephen King acabou de escrever toda a saga e me deparei
com um texto extremamente perturbador. Além do tempo absurdo de expectativa, pessoas
escreveram pedindo pra saber o fim porque estavam prestes a morrer e ele não
podia fazer nada porque não sabia como ia acabar!! O confronto com a
possibilidade da própria morte foi o que finalmente o levou a prosseguir.
Depois de saber isso passei a ter medo de me perguntar: quanto tempo terei que
esperar?
A raiva logo cansa
e começo a pensar nas alternativas, no que ler a seguir, só que não dá vontade
e acabo tãããõ deprimida que preciso parar tudo e respirar fundo até que aceito
o fato, entendo a minha limitação e (BUM!) encaro outra aventura, porém nunca
me desligo da sensação de falta.
Minha primeira
experiência do tipo foi com J K Howlling. Tive que aguardar, ano após ano, o
lançamento de algum volume novo, acompanhando as notícias, as fofocas sobre a
autora, o drama dos atrasos. Teve livro que comprei antes de sair, mas o
desgaste foi muito grande e a animação diminuiu muito com o passar dos anos, ao
ponto de não estar verdadeiramente feliz quando peguei o último exemplar da
coleção. Me senti meio Gollum segurando
um objeto tão desejado que minha vontade já nem contava mais.
Contar uma
história complexa e totalmente diversa do mundo tal como conhecemos pode exigir
a divisão em partes. Aceitei de bom grado me deleitar com os volumes do
universo de Tolkien e me maravilho com a construção fantástica de GRRM que
segue surpreendendo e acrescentando a cada volume, mas existem momentos em que
enxergo apenas alguém que não tem algo novo a oferecer e insiste em prolongar seus
15 segundos a fama ou desapegar daquilo que criou.
O fato é que um bom autor pode, mas não precisa, manter
o interesse do público com series. Quando o leitor se identifica com a
narrativa é natural que procure outros materiais do mesmo escritor e siga feliz
com cada novidade. Fiz isso com Agatha Christie, Sidney Sheldon, Stephen King, entre
outros, e me sentia mais livre para fazer outras descobertas e aguardar novos
lançamentos sem precisar entrar na vida íntima de ninguém.
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